Está iminente a recandidatura de Mário Soares à presidência da república. Não é bem o regresso de Eusébio à selecção de futebol, mas quase! O homem…é o homem e o seu contexto. E, neste caso, por muito respeitado que seja o nome, a escolha levanta forçosamente algumas questões, no actual contexto político.
1. Há uns meses – não muitos – alguém encheu o pavilhão da antiga FIL para a sua despedida política. Ele próprio disse que nunca mais teria cargos de política activa. Mas isso, hoje em dia, que importa?! Santana disse que abandonava a política e Sócrates que não aumentava os impostos. Parece que os políticos não têm memória. E depois? O povo tem?!… Acho que não!
2. Para que serve o cargo de Presidente da República? Noventa por cento da população NS/NR (não sabe ou não responde). Logo, a questão que se coloca é: que mais dá eleger um ou eleger outro? A diferença entre um que dorme e outro que nos faz dormir não é grande. Mas é um erro… a verdade é que Sampaio – no seu jeito mansinho – foi líder de um dos maiores golpes de estado de que me lembro em Portugal. Desmontou o PSD do poder e entregou-o, no momento certo, ao PS de Sócrates.
3. Mário Soares já teve o meu voto. Com todos os seus defeitos e virtudes terá sempre o meu respeito. Terá o seu lugar na história de Portugal com muitas e opulentas páginas. Será sempre uma referência. Dará nome à sua Fundação, a muitos prémios, a muitos museus. Mas para mim é já uma figura do passado. E é um sinal de respeito deixar descansar um guerreiro…
4. É preciso ajudar Mário Soares a sair de cena, com dignidade! A sua candidatura é uma utilização abusiva do seu capital político por parte do PS. Numa lógica puramente partidária, procuram ocupar e unir o espectro político da esquerda na ânsia de perder por poucos. Para isso, estão dispostos a sacrificar uma figura de referência (como já fizeram com outras e de resultados funestos). “Ninguém é mau voluntariamente”, dizia Sócrates – o antigo. Mas Sócrates – o actual – está a ser mauzinho!!
5. Resta recordar a Mário Soares as sábias palavras de Maquiavel: “O Príncipe precisa de ser raposa para conhecer as armadilhas e leão para espantar os lobos”. E, acrescento…os lobos da sua própria alcateia!
6. É preciso dignificar a figura da Presidência da República. Portugal terá que escolher uma personalidade forte face ao futuro. O que está em causa não é referendar uma página da história, mas sim escrever uma nova história.
Por: João Morgado
