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Por entre o fumo e o cheiro a queimado

Editorial

1. As condições climatéricas de calor verdadeiramente abrasador levam a que vivamos dias tórridos e em que o fogo seja, uma vez mais, um flagelo que não conseguimos dominar. Anos e anos de debate sobre o que podemos fazer para reduzir a tragédia que todos os verões se abate sobre o país; anos e anos de investimento em meios, equipamentos e formação para combater o fogo e as chamas aí estão com toda a sua força a dizer-nos que nada foi feito para parar a devastação. Tantos diagnósticos, tantos estudos, tantas “superestruturas”, tanto dinheiro lançado sobre as labaredas e, afinal, Portugal não consegue proteger as pessoas e os bens, e não consegue salvar a natureza.

As imagens de horror que por estes dias vimos nas televisões (que só deveriam passar imagens da destruição a posteriori e não do “espetáculo” do fogo que anima os pirómanos) e o fumo que nos entra em casa e nos sufoca deviam obrigar-nos a ser mais exigentes com as autoridades, com o governo, com os políticos, com as autarquias. É urgente exigir um investimento na floresta, na prevenção, na limpeza, na vigilância e na planificação florestal. Não basta defender a fileira enquanto negócio, é necessário defendê-la enquanto meio-ambiente.

2. A tendência de crescimento da natalidade em Portugal, pelo segundo ano consecutivo, depois de em 2012 ter atingido os valores mais baixos de sempre e de termos passado a ser o país, no mundo, com menos nascimentos por habitante, é uma boa notícia. No primeiro semestre de 2016 terão nascido mais 2.639 bebés do que em igual período de 2015, num total de 42.758 nascimentos. Este aumento, de cerca de 7%, é ainda insuficiente para a “reposição” populacional, mas finalmente contraria a tendência de grande envelhecimento da população portuguesa (além do envelhecimento populacional, os jovens emigraram…).

Contrariando a tendência de renovação populacional do país, os distritos da Guarda e Portalegre foram os únicos onde a “taxa de fecundidade” continuou a baixar. Este facto deveria merecer a maior atenção e preocupação dos responsáveis regionais, em especial dos autarcas. Enquanto no resto do país a tendência é de crescimento, pois, supostamente, há algum otimismo em relação ao futuro, nos distritos da Guarda e de Portalegre não se vislumbra “segurança” e não há apoios que permitam facilitar a vida a quem quer ter filhos. Não basta propor um cheque para pagar fraldas ou oferecer umas prendas ou pagar os livros escolares (apoios que são importantes), mas depois não haver expetativas de futuro, não haver empregos… E haver custos de interioridade elevados, haver uma taxa de IMI elevada (no caso do concelho da Guarda) ou o custo da água estar entre os mais altos do país (como acontece na Guarda e Covilhã). Se queremos ter futuro – e ter crianças é salvar o presente e assegurar o futuro das nossas vilas e cidades, inclusive do país enquanto nação – então é preciso promover a natalidade de forma ambiciosa, investindo nas famílias e promovendo o desenvolvimento económico, social e cultural. Não é fácil, mas se houver vontade política e um plano estruturado é possível – aqui ao lado, o distrito de Viseu teve um crescimento da taxa de natalidade de 20%, se calhar porque em Viseu se aposta de forma estruturada no desenvolvimento.

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