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Pescar à linha

Editorial

1. Álvaro Amaro, habilidosamente, e para não deixar espaço mediático ao anúncio da escolha do candidato socialista (Eduardo Brito), torpedeou aquele que deveria ser o momento de algum protagonismo da concelhia do PS, apresentando direção de campanha, direção financeira e primeiro nome à Assembleia Municipal, Cidália Valbom. O resto fica para depois, que ainda falta muito tempo. Mas, curiosamente, “à mesa de café”, falou-se mais da presença no TMG dos socialistas Vergílio Bento, José Manuel Brito e Pedro Pires do que dos nomes apresentados pelo candidato do PSD. A presença dos elementos da presuntiva candidatura independente, que dividiu os socialistas da Guarda há quatro anos e promete continuar a prejudicar o PS em 2017, deixou muita gente estupefacta.

Vergílio Bento era conotado com a extrema-esquerda e chegou ao PS pela mão de Maria do Carmo Borges, de quem foi vereador durante meia dúzia de anos. Depois foi vice-presidente da Câmara com Joaquim Valente, que substituiu muitas vezes, durante oito anos. E dirigente do PS. Partido que abandonou porque não o deixaram ser o candidato a presidente da Câmara – e ainda há poucos meses se mostrava disponível para encabeçar uma candidatura socialista se o partido lhe pedisse… Álvaro Amaro já o tinha indigitado para primeiro secretário da CIM (num jantar em Gouveia, logo após as eleições de 2013, e ainda antes de tomar posse na Guarda, com os eleitos pelo PSD do distrito, mas os demais autarcas não lhe reconheceram méritos para o lugar e a promessa de Amaro para pagar o apoio «dos independentes ficou a marinar») e foi mantendo o antigo vereador socialista por perto para poder dizer que a sua candidatura é abrangente e vai muito para além do PSD, de que não precisa e não ouve.

Amaro segue à risca o plano do domínio eleitoral do concelho e vai pescando à linha: três votos à esquerda (que é o que representam hoje os socialistas trânsfugas) e dois à direita. Pode não dar para chegar ao 6-1 mas serão mais umas pedras no caminho de Eduardo Brito e da candidatura independente com o apoio do CDS.

2. O aparecimento dos orçamentos participativos foi uma opção, um caminho, para aproximar os cidadãos do poder executivo. O modelo, simples, pretende que as pessoas sugiram ideias, intervenções ou dinâmicas com um valor cabimentado e cuja implementação seja executada por ser do interesse da comunidade. Um pouco por todo o lado, muitos cidadãos, de forma individual ou coletiva, têm procurado intervir na comunidade apresentando a defesa de projetos ou obras que, muitas vezes, de outra forma nunca avançariam. Mas, por vezes, a triagem deixa de fora boas ideias e outras vezes escolhem-se projetos que não fazem muito sentido em detrimento de outros que porventura são mais úteis e interessantes. Mas cumpre-se o pressuposto essencial, de intervir civicamente e dando voz aos cidadãos. A Democracia é isto. E os orçamentos participativos são bem-vindos em nome desse pressuposto (mesmo quando alguns dos projetos implementados não têm futuro, como o dos cabos de alimentação para telemóvel, na Guarda, que se revelou patético).

Na Guarda, a escolha do orçamento participativo este ano recaiu sobre a qualificação do Parque de Merendas da Quinta da Taberna (Videmonte). Gastar dinheiro em parques de merendas era um desiderato absurdo que muitos autarcas promoveram, um pouco por todo o lado, há 20 anos, e nomeadamente em aldeias onde se ganharam uns votos e entretanto onde devia haver merendas foram nascendo giestas. Por princípio, pois, é um erro continuar a gastar dinheiro em parques de merendas… Mas há exceções. A Quinta da Taverna é um local deslumbrante, de natureza e vida. Um local que merecia há muitos anos um parque de merendas e cuidados vários, até para mais pessoas se sentirem convidadas a disfrutar de tão belo e excecional lugar.

Luis Baptista-Martins

Comentários dos nossos leitores
Gus Gustas@hotmail.com
Comentário:
Pois, e já porque mais não seja é muito mais importante tratar dos terrenos que estão perto das casas reconstruídas de um “dono de um clube automobilístico famoso da cidade” do que, por exemplo, no projeto dos bombeiros. Será mais um pagamento de favores?
 

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