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Os Lusitanos: uma história pouco conhecida

Nos Cantos do Património

Nas II Jornadas de Património da Beira Interior organizadas pela ARA – e em que se empenharam activamente os dois responsáveis por esta coluna dos “Cantos do Património” – e pelo CEI, na cidade da Guarda, debateram-se os problemas relacionados com a origem dos Lusitanos, com a localização dos seus povoados, com os seus costumes, com a sua religião e com as “pseudo-verdades” sobre este povo.

Estas jornadas destacaram-se pela grande qualidade científica das comunicações apresentadas (cujas actas sairão brevemente) mas também pela novidade dos temas apresentados e pelo debate suscitado.

Mas a informação arqueológica sobre os Lusitanos é ainda muito reduzida como constatou Raquel Vilaça, professora da Universidade de Coimbra, na sua conferência inaugural. Apesar de se conhecer grande número de sítios arqueológicos do primeiro milénio antes de Cristo, época que, grosso modo, corresponde à presença dos Lusitanos na Beira Interior, pouco se sabe sobre os seus povoados. Isto porque escasseiam as escavações em alguns locais presumivelmente ocupados pelos grupos de Lusitanos que no século II a.C. combateram os romanos.

Curiosamente, conhecem-se mais testemunhos para a época anterior à presença dos Lusitanos na Beira Interior, ou seja, para o final da Idade do Bronze (ou Bronze Final, que corresponde aos séculos XIII – IX a.C.) do que propriamente para a época dos Lusitanos que, em termos históricos, estão associados à Idade do Ferro (séculos VIII-I a.C.). Para este período a investigação é incipiente por falta de apoios para a investigação arqueológica. Talvez estas II Jornadas venham despertar algum interesse na investigação, divulgação e promoção (não propaganda infundada) sobre os Lusitanos e a Lusitânia pré-romana.

Repare-se nas caríssimas campanhas publicitárias sobre a “Lusitânea”, nas monografias locais, que pura e simplesmente ignoram a investigação arqueológica desenvolvida nos últimos tempos, e as falsidades que se continuam a escrever sobre os Lusitanos em tudo que é publicação destinada ao “grande público”.

Para finalizar, apenas um apontamento breve sobre a presença da comunicação social. A organização das II Jornadas pôde constatar o interesse de alguns órgãos nacionais e regionais nestes temas do património relacionados com os Lusitanos. Mas infelizmente, não foi assim com toda a comunicação social da região. O debate científico sério, desprovido de pseudo-verdades ou de falsos mitos, nem sempre é suficientemente mediático para despertar interesse. Para quando uma revisão séria dos mitos sobre a história dos Lusitanos e dos povos que habitaram a Beira Interior?

Por: Manuel Sabino Perestrelo

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