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Os Cucos da Nação

Os cucos são aves muito espertas. Após a fecundação, a fêmea, ao invés de fazer o respectivo ninho e chocar o respectivo ovo, vai depositá-lo no ninho de outra ave de espécie diferente da sua, o pisco-de-peito-ruivo, a qual, vai assumir o enorme ovo como sendo seu, juntamente com os seus próprios ovos e vai chocá-los. Só que o embrião do cuco desenvolve-se mais rápido que o da espécie de aluguer, o que faz com que ecluda uns dias mais cedo. Num instinto assassino, o recém-nascido atira imediatamente com os ovos borda fora, garantindo desta forma que os pais de aluguer vão passar a trabalhar em exclusivo para satisfazer o seu apetite voraz até à idade de bater asas. É desta forma que os cucos se reproduzem e perpetuam. A este tipo de relação biótica, em que há uma espécie beneficiada (o cuco) e outra prejudicada (o pisco), dá-se o nome de Parasitismo, numa versão particular, o Social.

Vem este intróito a propósito do que se passa actualmente na sociedade portuguesa. Com a criação do Rendimento Mínimo Obrigatório, actualmente designado de Rendimento Social de Inserção (RSI), passámos a criar na sociedade portuguesa, salvo honrosas e realmente necessitadas excepções, uma quantidade de parasitas sociais assustadora. Passo a contar-vos duas dos milhares de situações semelhantes que se passarão por este país fora e que nos indignam como portugueses e, principalmente, como contribuintes.

Há dias reparei numa famosa família que há muitos anos vive à custa do RSI. Vivem num apartamento de realojamento social, têm dois carros, andam bem vestidos, fumam e bebem à farta, tomam o pequeno almoço várias vezes por semana nos cafés, os filhos, multi-repetentes, a única razão pela qual andam na escola é para os seus progenitores somarem mais algumas centenas de euros mensais. Estou a falar de indivíduos não portadores de qualquer deficiência e em idade de trabalhar.

À entrada do João Bragal instalou-se uma próspera comunidade cigana que aos poucos se foi apoderando (ou terá comprado?) de um terreno. Com os materiais que foram coligindo pelas obras da região construíram razoáveis casas e barracas onde vivem em cujos telhados são visíveis receptores de satélite. À porta das ditas barracas estacionam Audis, Mercedes e BMW´s e a electricidade é sugada dos postes de iluminação pública. Muito provavelmente estas famílias beneficiarão do RSI e terão os seus filhos matriculados nas escolas da região (sem nunca lá porem, efectivamente, os pés).

Quando a maior parte desta gente é confrontada com a hipótese de um emprego, mesmo que temporário, a resposta é quase sempre a mesma. “O quê? E o meu Rendimento Mínimo? Se for trabalhar perco-o. Não quero”.

Pode esta frase parecer exagerada, mas as coisas passam-se a maior parte das vezes desta maneira. Das conversas que tenho tido com pessoas acerca desta temática, relatos deste tipo são reincidentes.

O RSI, que até poderia ser uma boa medida no papel, na prática, veio criar uma plêiade de parasitas sociais que a nossa Segurança Social, qual pássaro desafortunado, se encarrega de criar e alimentar. Há muita coisa que esta gente poderia fazer em troca dos benefícios que a sociedade lhes dá. A limpeza de florestas, só a titulo de exemplo, seria uma actividade onde o Estado poderia ter algum retorno; ou ainda, sempre que fosse proposto algum tipo de emprego e os beneficiários recusassem, esta atitude deveria acarretar a imediata perda ou redução do direito ao RSI, à semelhança do que vai passar a acontecer para os desempregados que beneficiam do subsídio de desemprego.

Como contribuinte, revolta-me ver o diferencial entre o que ganho (o ilíquido) e o que efectivamente recebo e sei que muito desse dinheiro vai para a Segurança Social que, depois, se encarrega de o canalizar para esta gente que nada produz nem quer produzir. Neste país só vale a pena ser uma de duas coisas. Rico ou muito pobre (com ou sem aspas). Os outros, os trabalhadores por conta de outrem, a “parasitada” classe média que pague os impostos.

Por: José Carlos Lopes

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