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Orgulhos

Corta!

Ao nos depararmos com a mais recente versão de Orgulho e Preconceito, a obra de Jane Austen tantas vezes adaptada para televisão e cinema, apetece perguntar: qual será o limite de adaptações possíveis de realizar para cada história, até que esta atinja o seu ponto de saturação? A resposta, creio eu, mudará certamente consoante a pessoa tenha ou não visto a versão agora assinada por Joe Wright.

A história já todos certamente conhecem: crónica de amores impossíveis, com a divisão de classes sempre bem presente, numa sociedade onde as regras aparecem sempre a jeito de serem quebradas. História igual a tantas outras, tantas vezes vista em filmes ou séries televisivas de gala, onde a BBC é especialista, mas que, inesperadamente, em 2006, ainda nos consegue prender a atenção do principio ao fim, aqui tendo como guia o belíssimo sorriso de Keira Knightley.

Para além de uma boa direcção de actores e uma eficaz reconstituição histórica, este Orgulho e Preconceito surpreende pelas suas ideias de cinema, tentando criar um distanciamento com o universo televisivo onde Jane Austen está para as histórias de época (como se designou chamar, embora todos os tempos sejam uma época e por isso tal categorização de tão global acaba por nada dizer) como Agatha Cristhie está para as histórias de mistério. Para todos aqueles que pensem já ter visto este filme antes – o que até deverá ser bem verdade – não deixem de se voltar a surpreender.

Preconceitos

Podendo também inserir-se nessa tal categoria de filme de época (a tal categoria que nada quer dizer mas que todos entendem o que se quer com ela afirmar) e com um elenco principal de grande valor, onde se destacam Johnny Depp, Samantha Morton e John Malkovich, O Libertino é uma desgraça. Não vale a pena rodear tal questão de tão evidente que ela é. Ao longo de todo o filme é pouco aquilo que se consegue aproveitar. Até os actores, com provas dadas do seu valor noutros trabalhos, se afundam com tudo o resto. Nada se salva. Laurence Dunmore tem ainda menos ideias de cinema do que Sade tinha de literatura. E o Marques de Sade não aparece aqui vindo do nada, uma vez que este Libertino se coloca numa linha artística (?!) que utiliza o sexo como ponto de partida para tudo, mas que se esquece de dali partir para outras paragens, acabando o objecto artístico por se revelar um enorme nada, onde até o sexo, tratado de forma tão displicente se transforma na coisa mais aborrecida do mundo. Para alguns, o sexo, per si, é suficiente para obter o choque pretendido no espectador, ficando tantas vezes o espectador, na realidade, chocado por descobrir que ainda existem pessoas que olham o sexo dessa forma. Tão bom elenco não merecia um filme destes.

Por: Hugo Sousa

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