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O regresso do consumo

Editorial

Nesta quadra natalícia, o regresso do consumo, por inadequado que pareça em tempos de austeridade, é muito bem-vindo. Não se trata de uma autofágica satisfação consumista, é essencialmente uma animação económica essencial à sobrevivência de muitas lojas de comércio tradicional. Ou inclusive de pequenas empresas comerciais e de serviços que nesta época festiva salvam o péssimo ano que tiveram – se é que salvam – e que assim aspiram a sobreviver, podendo continuar a pagar impostos e os salários dos seus trabalhadores. Por estes dias, todos ficam mais felizes: quem compra e quem vende. Mesmo que seja apenas por estes dias.

Este é um tempo de compras e invasão dos centros comerciais e das grandes superfícies – os grandes supermercados, as grandes lojas ou híperes do que seja. É um tempo em que se compra menos no comércio tradicional ou nas lojas de “sempre”. Mas neste tempo de crise era bom que houvesse uma consciencialização em relação à grande distribuição. Era bom que o consumidor se precavesse sobre o logro e os truques dos grandes distribuidores para venderem ainda mais. E era bom que os consumidores se perguntassem sobre o que aproveitam ao comprar no hipermercado: melhores preços? Apenas em alguns produtos; melhor qualidade? Raramente; melhor atendimento? Quase nunca; melhores condições de pagamento? Nunca, pois é tudo pago em dinheiro no ato de compra; produtos mais frescos? Talvez, o peixe, mas os demais não, pois são muito mais frescos os legumes ou as hortaliças do Mondego que se vendem na praça (Mercado) do que as verduras e legumes que já passaram por todas as arcas frigorificas do Pingo Doce ou do Continente (esse grandes vendedores de produtos perecíveis e descongelados). E, pior, a grande distribuição compra a maioria dos seus produtos longe e não deixa mais-valias entre nós: nem lucros, nem impostos… O consumidor só ganha na variedade, nalgumas promoções e na facilidade com que enche o carrinho de compras.

Enquanto a retoma não chega, mas a austeridade vai dando alguma folga consumidora, era bom que recordássemos que comprar produtos portugueses é investir em Portugal; mais, era bom que recordássemos que comprar artigos produzidos na nossa região é garantir o futuro da nossa comunidade, é permitir a sobrevivência das empresas da região, é salvar empregos de quem por cá trabalha, é garantir o ganha-pão dos que ainda por cá vivem.

Neste Natal devíamos meditar sobre os nossos hábitos de consumo e sobre como potenciar o desenvolvimento da região comprando o que é nosso.

Boas Festas.

PS: Sem surpresa, o Constitucional chumbou por unanimidade a convergência das pensões. O governo em vez de ameaçar com mais impostos, devia incluir os 388 milhões de euros no défice, que passaria de quatro para 4,25 por cento. Sem dramas. Não se pode fazer tudo o que a “troika” exige. Utilizar as reformas públicas de forma ínvia e como instrumento orçamental é minar todo o sistema de confiança a que o Estado está obrigado. E o somatório das sobretaxas, de mais IRS, de CES, de redução de comparticipação nos medicamentos, etc, já é um enorme castigo sobre os pensionistas. A alguns até se pode tirar mais algum… mas à maioria já não é admissível que se tire mais. É admissível cortar ainda mais em que tem pensões altas, mas imoral a quem recebe pouco mais de 600 euros. O Estado podia substituir essa necessidade orçamental, por exemplo, com o corte dos suplementos salariais (mais de mil milhões em 2012) que são pagos como prémios por isenções de horário ou subsídios de turno (para fazer aquilo para que se é pago com o vencimento) ou por acumulação de funções ou até por determinadas horas extra ou ainda pelas famosas diuturnidades: Acabem-se com os suplementos salariais.

Luis Baptista-Martins

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