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«O desempenho e dedicação dos nossos funcionários são muito importantes para a Misericórdia continuar a fazer um bom trabalho»

Entrevista a Anselmo Sousa, provedor da Santa Casa da Misericórdia da Mêda

P – Qual é o papel da Santa Casa da Misericórdia para o concelho da Mêda?

R – Sabemos o papel que as Misericórdias têm em todo o país. São bastante importantes a nível social, como também a nível da educação, da saúde e até da própria economia. Em tempos da crise que estamos a atravessar, as Misericórdias têm um papel preponderante para apoiar essencialmente os mais frágeis, como os idosos, e também aquelas pessoas que, de um momento para o outro, ficam desempregadas. A Misericórdia da Mêda não foge à regra e é a maior instituição do concelho.

P – O lar da terceira idade tem capacidade para quantas pessoas?

R – Temos neste momento três valências de lar, com cerca de 140 utentes internos. Também prestamos serviço domiciliário e apoiamos à volta de 40 pessoas. Temos um centro de dia com apenas 12 utentes porque, enquanto puderem estar em casa, não há o hábito de frequentar este espaço.

P – Entre o apoio domiciliário e as pessoas que estão em regime de internato nos lares da Santa Casa, qual é o total de utentes?

R – Cerca de 200 a 250. Além disso, o Governo criou uma nova valência para dar apoio àquelas pessoas que, de um momento para o outro, ficaram desempregadas. Trata-se das cantinas sociais, onde estamos a servir à volta de 25 utentes. Este serviço foi muito importante nestes últimos quatro anos de crise. A Santa Casa tem também um conjunto de apartamentos para as pessoas necessitadas e que vivam com muitas dificuldades, sem uma casa condigna. Por volta de 1998/1999, em parceria com o Instituto Nacional de Habitação (INH), construímos 18 apartamentos de habitação social destinados a essas pessoas que, de outra forma, não teriam possibilidades para terem uma casa digna.

P – A Santa Casa assume, na Mêda, um contributo não apenas da dinâmica social mas também de combate à pobreza, ajudando as pessoas mais carentes. Radicou, de certa forma, a pobreza na Mêda?

R – Exatamente. E também tem um papel relevante a nível da economia local. Temos noção que estamos num concelho onde não existem empresas e onde o emprego é precário. Quando entrei na Misericórdia, que neste mandato já faz 18 anos, a instituição tinha cerca de 30 funcionários e neste momento tem 85. Ou seja, para conseguirmos dar todo o apoio que temos dado foi necessária uma capacidade de gestão e organização que permitisse o crescimento da instituição para poder responder a todas as pessoas. E, assim, hoje há um corpo técnico de 85 pessoas, nomeadamente especialistas. É preciso haver uma gestão bastante rigorosa nestas casas. E digo isto com muito orgulho: fizemos cerca de 5 milhões de investimentos nestes últimos anos e a Misericórdia não deve nada a ninguém e mantém-se muito sólida em termos financeiros. E isso é fundamental para que estas instituições possam funcionar. Temos um corpo técnico de jovens especializados, como três enfermeiros a tempo inteiro, uma diretora técnica, assistentes sociais, fisioterapeutas, todos jovens aqui da terra.

P – A Santa Casa é o maior empregador do concelho neste momento? A dinâmica económica não é dada apenas pelos serviços, mas também pelo emprego que se criou na Mêda?

R – Sim, além da Câmara Municipal, é o maior empregador do concelho. Nos últimos anos criámos 50 postos de trabalho, com tendência ainda a crescer, pois somos ambiciosos, temos projetos e temos noção da importância que esta instituição tem no concelho. Queremos que, de forma sustentada, ela cresça e estamos convencidos que no futuro ela ainda será maior do que é hoje.

P – Acabam de lançar um novo projeto de requalificação do antigo lar. Como se encontra neste momento?

R – A nossa preocupação é criar boas condições aos nossos idosos. O lar designado Dr. Joaquim Manuel Saraiva foi construído em duas fases, em que tivemos de desativar o antigo lar, o Nossa Senhora de Fátima, por já não ter condições. Hoje, como a procura é cada vez maior, vamos requalificá-lo e fazer uma estrutura praticamente nova. Já lançámos o concurso, a adjudicação está para breve e esperamos lançar a obra no início de setembro. Trata-se de um projeto que ronda os 900 mil euros. Com todo o equipamento deve rondar o milhão de euros. Os investimentos realizados nos lares nos últimos anos, que rondaram os quatro milhões de euros, foram feitos com o orçamento da Santa Casa, não tivemos um único apoio do Estado.

P – É através da equipa organizada e uma gestão qualificada que a Misericórdia pode cumprir os seus objetivos de dinamizar e apoiar a atividade social. Há mais alguma instituição que preste apoio social no concelho?

R – Sim, existe o Patronato, ligado à Igreja e mais destinado às crianças dos três meses aos 6 anos de idade. No entanto, a Misericórdia também assume uma componente de educação, nomeadamente através do ATL. Como essas valências já existiam, não se justificava termos também as mesmas porque, infelizmente, as crianças do nosso concelho não são assim tantas. No ATL apoiamos as crianças no período de férias e também quando saem da escola até às 19 horas. Desta forma, os pais sabem que têm um espaço onde podem deixar os filhos acompanhados por técnicos e onde fazem diversas atividades, escolares ou outras. Não encerramos no período de férias de Verão, Páscoa ou Natal, estamos sempre abertos para que os pais tenham um lugar onde possam deixar as suas crianças.

P – A Casa de Bem Estar vai ser desativada?

R – As novas instalações que vamos construir servirão também para substituir esse lar, designado de Casa de Bem Estar, que também não reúne as condições necessárias. A Segurança Social exige que os lares tenham qualidade e concordamos com isso. Uma das nossas preocupações passa por dar qualidade ao utente.

P – Para além do investimento que já mencionou, há algum elemento que faça parte de um projeto futuro de desenvolvimento da Misericórdia?

R – Nós temos ambições mas, como já disse, os apoios do Estado têm sido poucos e vamos realizar esta obra, que vamos candidatar ao programa “Portugal 2020” a ver se conseguimos algum apoio. Mas independentemente disso, a obra vai avançar. No entanto, há um projeto que gostaria de concretizar há alguns anos e para o qual já existe um pré-projeto no local onde está a fase um e dois do lar. Trata-se de residências assistidas, ou, como agora lhe chamam, um lar residencial assistido. O projeto seria destinado àquelas pessoas idosas com mais mobilidade, que são ainda independentes e podem fazer a sua vida normal e que têm um poder económico mais elevado. Penso que é um projeto viável. Nós daríamos o apoio a nível da saúde e enfermagem e, desta forma, as pessoas poderiam estar lá, de uma maneira mais independente, e não estariam sujeitas àquelas leis rígidas de um lar. Seria quase como estar em casa, embora com a diferença de terem todo aquele apoio médico, entre outras valências.

P – Em que fase está essa ideia?

R – É um projeto que tem pernas para andar, já falámos com um arquiteto e temos um pré-projeto feito. Gostaríamos de arrancar com 30 residências assistidas, mas se não for possível começamos apenas com dez, por exemplo. Isto seria também uma aposta para os nossos emigrantes, fazendo-os regressar à terra. Por outro lado, quem casou fora e fez vida lá ficaria descansado por saber que os pais voltariam à sua terra e poderiam viver com qualidade e segurança. Não sei se vamos ter tempo de concretizar este projeto, pois este ano vai haver eleições e ainda não pensei se me vou recandidatar. Se o fizer, esta iniciativa será uma prioridade.

P – A boa gestão da Santa Casa tem conseguido gerar receitas positivas não apenas para assumir os custos mas também para apostar em novos investimentos. A nível financeiro, como se encontra a Misericórdia?

R – A situação financeira da Misericórdia da Mêda encontra-se bem mas, para isso, é necessário haver uma gestão rigorosa e responsável. Infelizmente, existem muitas instituições que estão a passar por situações muito complicadas porque talvez haja uma certa irresponsabilidade na gestão. Felizmente, temos tido uma ótima gestão e um dos nossos princípios é, como se costuma dizer, “não dar um passo maior do que a perna”. Queremos que a instituição cresça, mas de uma forma sustentada e que todas as pessoas que apoiamos sintam alguma tranquilidade com o que temos. A Mesa da Misericórdia é constituída por cinco elementos e o empenho e dedicação de todos os técnicos que trabalham aqui são muito importantes para que a Misericórdia possa continuar a fazer um bom trabalho.

P – A nível da Saúde têm um gabinete médico. Como funciona?

R – Temos um médico que vem três dias por semana, que é o ideal, e três enfermeiros a tempo inteiro. A nossa preocupação passa também pela saúde.

P – A Santa Casa da Misericórdia também tem, devidamente equipada, uma zona de Fisioterapia. Este serviço é destinado não apenas aos utentes do lar mas também à população do concelho?

R – Temos um espaço nas instalações do lar Dr. Joaquim Manuel Saraiva que possui excelentes condições e fizemos um protocolo com um fisioterapeuta que presta serviços não só aos utentes, mas à própria população. A grande dificuldade neste momento é que ainda não conseguimos os acordos com o Estado. Estamos a tratar disso da melhor maneira para que as pessoas interessadas possam ter descontos para usufruir do serviço. Qualquer pessoa do concelho que tenha um problema físico pode contar com a Misericórdia para fazer a reabilitação com excelentes técnicos fisioterapeutas.

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