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O caso não encerrado

O assunto dos três secretários de Estado convidados pela Galp para assistir a jogos da seleção nacional no passado Euro 2016 não está encerrado. Devoluções indisfarçavelmente arrependidas, a necessidade de códigos de conduta que não deveriam ser preciso suscitada sob o pretexto errado, e avocações de dossiers pelo ministro Augusto Santos Silva e que muito objetivamente diminuem a capacidade governativa, demonstram bem como o caso não está encerrado e como na verdade está a ser mal gerido pelo ministro dos Negócios Estrangeiros. Todas as emendas saíram piores do que o soneto, ampliando a dissonância. Os três visados, se não queriam juntar a uma infantilidade outra, deviam ter posto os seus lugares à disposição, com desapego e, sobretudo, preocupação em evitar danos maiores que irradiassem para a posição do Governo, desde logo junto à opinião pública. Deveria tê-lo feito especialmente o responsável pela pasta dos Assuntos Fiscais, que aceitou um apoio, por pouco significativo que seja, da petrolífera quando esta mantém um contencioso de natureza fiscal de mais de uma centena de milhões de euros com o Estado. Não está em causa supor que os secretários de Estado, e particularmente o dos assuntos fiscais, deixassem de se sentir capazes de cumprir as suas funções com independência e grande competência técnica. A questão é outra e revela alguma inexperiência política. É que o facto não cairá no esquecimento e assombrará a interpretação e apreciação política que se fizer na opinião pública, na oposição, mesmo nos partidos que apoiam parlamentarmente o Governo, qualquer ação do governo visando a Galp. E para este Governo ainda há muita estrada para andar.

Entretanto, a oposição faz o que lhe compete não deixando morrer o assunto, levando o impacto do caso tão longe quanto possível. Seguramente, não descansarão os partidos da oposição enquanto António Costa não for obrigado a demitir ou a suportar na sua conta de credibilidade a não demissão dos secretários de Estado, pronunciando-se publicamente sobre o caso. Arrastar, remediar, agravar a situação, nada disto faz bem ao Governo, mas é o que tem sucedido, facto que parece estar a escapar aos secretários de Estado, em especial a Rocha Andrade.

É claro que alguma dose de frustração acompanha as consequências desta “inexperiência política” quando comparada com os suculentos frutos colhidos da muito experiente carreira política do atual conselheiro da Mota-Engil, cujos serviços passaram, desde a semana passada, a estender-se, na forma de consultadoria, à maior empresa mexicana. Outra petrolífera. Já para não falar da recente mas também muito badalada contratação da Goldman Sachs. Como dizia o apresentador, é a vida.

Por: André Barata

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