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O Amplexo

Muito aconteceu na última semana e nem todas as notícias são boas. É cada vez mais óbvio que o julgamento do último governo não se consumou nas urnas e que deverá prosseguir nos tribunais. Aqui, a provar-se os que os jornais insinuam, ficará demonstrado que fomos governados por um bando de malfeitores e de mentirosos (já sabíamos que eram incompetentes e não precisamos de uma sentença transitada em julgado para o provar). É óbvio também que a ressaca do Carnaval de meio ano que tivemos vai ter um preço, equivalente aos previsíveis sete por cento do nosso défice.

Isto é tudo muito grave e muito importante mas torna-se ridículo, perfunctório, estulto, subalterno, face à única verdadeira questão da semana: o golo do Benfica foi ou não legal? As imagens mostram uma bola a atingir a pequena área do Sporting, o Luisão e o Ricardo a saltarem em simultâneo, a aproximarem-se um do outro e a tocarem-se um ao outro enquanto a bola, serenamente, passa entre os dois e entra delicadamente na baliza.

É uma versão, mas há outras: não se “tocaram”, houve foi uma carga ilegal sobre o Ricardo que o impediu de fazer o seu trabalho; este, que falhou no momento mais importante do jogo, tentou justificar a sua falha com uma falta do adversário – ele e mais uns milhares de “lagartos” (embora o seu primeiro gesto tenha sido invocar “mão” por parte do Luisão, e não carga sobre o guarda-redes). O veredicto do lance depende da tendência futebolística do espectador e não da sua análise imparcial: o toque do Luisão (se houve toque) foi susceptível de impedir o Ricardo de produzir uma defesa adequada?

Mas não, o que se procura é apenas a prova de que, na área de reserva do guarda-redes, este foi “tocado” – o que implicaria a marcação imediata de uma falta e a anulação do golo – independentemente das potencialidades desse toque, da sua gravidade, do prejuízo provocado. No fundo, não queriam que o Benfica tivesse marcado golo. Querem também resumir toda a época a esta jogada, transformando os perdedores em vítimas e esquecendo tudo o que ficou para trás.

A todos esses aconselho vivamente a leitura das leis do futebol e desafio-os a encontrar nelas (e só nelas) a sustentação da sua tese. A tese, afinal, de que na pequena área não se toca no guarda-redes nem com uma flor.

Por: António Ferreira

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