Arquivo

Nós

Crónica Política

Somos um Povo heróico, que há nove séculos atrás, içou as velas e partiu a descoberta do mundo.

Depois de superar a adversidade, descobrir terra, desvendar mistérios, colonizar e deixar-se seduzir, regressou a casa, quase tão pobre quanto partira.

O advento da liberdade trouxe-nos a maioridade democrática e marcou o fim de um ciclo de presença política e administrativa de Portugal no mundo.

A justeza da legítima autodeterminação dos povos colonizados por Portugal reconduziu-nos a um retângulo estreito e empobrecido, onde este mesmo Povo, agora voltado sob si, parece ter revisitado, interessando-se, por práticas e conceitos do seu passado cripto-judaico.

A inveja, o voyerismo, a cobiça, a crítica, a calúnia, a delação, parecem agora caracterizar a nossa idiossincrasia, mascarando uma aparência, que não vive os valores que apregoa.

Este caldo cultural tem respirado e vivido à solta, no domínio social e político, apenas espartilhado e formatado pelo regular funcionamento das Instituições democráticas e constitucionais no quadro de estabilidade da Comunidade Europeia.

Invocamos o nosso credo religioso, visitamos a Igreja, fazemos profissão da nossa fé, mas cedemos fácil à tentação dos nossos demónios.

Afirmamos as nossas convicções democráticas, mas raramente respeitamos a liberdade de quem discorda de nós e não concebemos que haja verdade naquilo que os outros defendem.

Gostamos de olhar indiscretamente os outros, invejamos e cobiçamos, criticamos e denunciamos, considerando que somos os únicos guardiões da moral, da ética e da verdade.

E assim somos todos, únicos e autênticos.

Um Povo que perdeu horizontes, convicções, fé, autenticidade, que vive dividido, sofrido, desunido, incapaz de criar consensos, amarrado a preconceitos.

Este Povo vive hoje uma prova de fé na Justiça, ameaçado por uma desafiadora manipulação da palavra e da verdade na véspera das eleições mais decisivas da sua vida democrática.

Temos uma história épica feita de vontade e sacrifício, mas teremos um Povo heróico para a continuar?

Por: Júlio Sarmento

* Antigo presidente da Câmara de Trancoso e ex-líder da Distrital da Guarda do PSD

Sobre o autor

Leave a Reply