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Guarda fora da lista dos maiores valores de área ardida

Primeiro relatório de 2004 revela que já arderam cerca de 6.000 hectares e que Castelo Branco é o segundo distrito mais atingido

Pela primeira vez nas últimas décadas, o distrito da Guarda não aparece na lista dos distritos mais afectados pelos primeiros fogos florestais da época. Segundo um relatório provisório divulgado na semana passada pela Direcção-Geral de Florestas (DGF), já arderam este ano cerca de seis mil hectares de terreno, ou seja, um pouco mais de um terço da área ardida no mesmo período do ano passado. Estes dados reportam ao período compreendido entre 1 de Janeiro e 27 de Junho, revelando ainda que se registaram menos incêndios do que em igual período de 2003.

Até agora, o distrito de Castelo Branco é o segundo mais atingido pelos incêndios tendo já ardido 1.002 hectares. Os maiores valores de área ardida registaram-se no distrito do Porto (1.128 hectares) e ainda em Vila Real (663 hectares). Este ano já arderam 5.974 hectares e registaram-se 4.829 ocorrências (incêndio, queimada ou falso alarme), enquanto que no mesmo período do ano passado arderam 15.130 hectares e verificaram-se 5.954 fogos, refere o documento. Das 4.829 ocorrências deste ano, 1.082 foram incêndios florestais e 3.747 fogachos (incêndio cuja área total ardida é inferior a um hectare – 10.000 metros quadrados), adianta o relatório, acrescentando que houve ainda 97 reacendimentos. Dos 5.974 hectares de área ardida, 3.060 correspondem a povoamentos florestais e 2.914 a áreas de mato. Por outro lado, o maior número de incêndios florestais (área ardida superior a um hectare) verificou-se nos distritos do Porto (192), Vila Real e Viana do Castelo, ambos com 165. Relativamente aos fogachos, os valores mais elevados foram atingidos nos distritos do Porto (1.326), Lisboa (349) e em Viana do Castelo (346), indica o relatório. Durante o referido período, registaram-se quatro grandes incêndios, representando um total de área ardida de 611 hectares. Dois dos fogos ocorreram nos dias 25 e 26 de Abril em Padroso (Montalegre), outro em Beja, no dia 13 de Junho, e outro em Sortelha (Sabugal), no passado dia 16.

O maior número de incêndios florestais ocorreu em Junho (434), assim como os fogachos (1.572) e a maior área ardida – 4.029 hectares, dos quais 2.357 de povoamentos florestais e 1.672 de área de matos. No mês de Abril, registaram-se 229 incêndios florestais e 711 fogachos que consumiram à uma área de 795 hectares. Entre 1994 e 2003 ocorreu uma média anual de 7.172 incêndios florestais e 20.347 fogachos, que consumiram em média 141.382 hectares por ano, refere o documento.

Dez anos de incêndios assustadores na Guarda e Castelo Branco

Segundo dados da DGF, arderam nos últimos dez anos 297 mil hectares de área florestal nos dois distritos, dos quais 88 mil foram consumidos no ano passado. São números assustadores contabilizados por aquele organismo na última década, com destaque para 2003 quando o distrito da Guarda viu arder 33 por cento da sua área e qualquer coisa como mais de 23 mil hectares de floresta. Em Castelo Branco a devastação foi maior, já que foram destruídos 75 por cento da área do distrito, contabilizando-se mais de 65 mil hectares de floresta queimada, números que fizeram de Castelo Branco o concelho mais afectado pelos incêndios no último Verão. No total, e segundo a DGF, a Beira Interior tinha sido a região mais atingida no ano passado, tendo ardido mais de 93 mil hectares de floresta. Um cenário desolador que veio juntar-se a uma década catastrófica. Entre 1993 e 2002 foram registados pela DGF da Beira Interior um total de 14.202 incêndios, dos quais resultaram um total de cerca de 209 mil hectares de área florestal ardida no distrito da Guarda. Os concelhos com maior número de incêndios nos últimos nove anos foram Gouveia (2.330 fogos), seguido de Seia (1.954) e Guarda (1.799). Nesse período, o concelho de Manteigas foi o que registou menor número de ocorrências com apenas 132 fogos, sendo também aquele com menor área ardida (cerca de 800 hectares), seguido de Fornos de Algodres (632), e uma área ardida de nove mil hectares, e Almeida (664).

Em sentido contrário, o Sabugal (mais de 35 mil hectares de floresta), a Guarda (cerca de 32 mil hectares) e Seia (mais de 22 mil) foram os concelhos com maior área ardida na última década. 1998 foi o ano mais problemático em termos de incêndios no distrito da Guarda, onde foram registados 1.849 fogos. No entanto, as consequências mais graves ocorreram em 1994, quando arderam cerca de 38 mil hectares, um recorde de área florestal ardida que poderá ser ultrapassado este Verão. Em igual período, o distrito de Castelo Branco registou 7.027 incêndios e mais de 93 mil hectares de mato e florestas consumidos. O concelho da Covilhã foi o mais atingido nos últimos nove anos, com 1.920 incêndios e quase 20 mil hectares de área florestal consumida pelas chamas. O Fundão registou, no mesmo espaço de tempo, cerca de 10 mil hectares de floresta ardida em 1.754 fogos. Inversamente, Penamacor foi um dos concelhos menos atingidos, tendo-se registado “apenas” 662 incêndios e cerca de 3.500 hectares de área ardida, enquanto Belmonte sofreu o menor número de incêndios nos últimos nove anos (361) do distrito de Castelo Branco, que consumiram um pouco mais de três mil hectares de floresta. Em 1995 ocorreram 1.115 fogos, tendo sido considerado o ano com mais registos de incêndios neste distrito. Já 2002 foi o ano de maior área ardida em Castelo Branco, com mais de 19 mil hectares de floresta destruídos. No entanto, estes dados foram ultrapassados em poucas semanas de 2003, ano deixou sequelas duradouras no mapa florestal do país e da Beira Interior. Só no ano passado arderam perto de 471 mil hectares de florestas, matos, áreas agrícolas e urbanas em todo o país, segundo estimativas calculadas por técnicos do Instituto Superior de Agronomia através de imagens fornecidas por um satélite da NASA.

Proibido fumar em áreas florestais até Setembro

Legislação severa pune infractores com multas que vão dos 100 aos 44.500 euros e penas de prisão

Até final de Setembro, é proibido fumar, fazer lume ou lançar foguetes nas zonas florestais e agrícolas, podendo ainda verificar-se, em situações de risco elevado de incêndio, a proibição de entrar e circular nestas zonas. Segundo um comunicado do Ministério da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas, o decreto-lei 156/04, que entrou em vigor no início deste mês, proíbe fumar, deitar fora pontas de cigarro, fazer fogueiras e queimadas e lançar foguetes nas zonas florestais e agrícolas entre Julho e Setembro.

Além disso, prevê que, em situações em que a Direcção-Geral de Florestas considere haver risco elevado de incêndio, possa ser proibido aceder, circular e permanecer em áreas florestais. O mesmo diploma exige que se mantenha uma faixa de 50 metros de terreno limpo em redor de habitações no espaço rural e uma área de protecção em torno de unidades fabris e industriais, estradas e linhas ferroviárias. Estas regras inserem-se no Sistema Nacional de Prevenção e Protecção Florestal contra Incêndios e a sua violação pode levar a multas que vão dos 100 aos 44.500 euros, informa o Ministério da Agricultura, acrescentando que caso uma infracção deste diploma dê origem a um incêndio grave, o responsável será sujeito a uma pena que pode chegar a 10 anos de prisão. Segundo o Ministério, cabe à Guarda Florestal, à Guarda Nacional Republicana, à PSP, aos Vigilantes da Natureza e aos municípios fiscalizarem o cumprimento deste decreto-lei, que resulta de mais de 12 anos de recolha de informação em incêndios pelo Corpo Nacional da Guarda Florestal. «Os estudos mostram que a maioria dos incêndios resulta da acção do homem, nomeadamente do uso negligente do fogo, em situações como a realização de queimadas, fogueiras, queima de sobrantes agrícolas e pontas de cigarros abandonadas», pode ler-se no comunicado. O ministro da Administração Interna, Figueiredo Lopes, já disse serem necessárias «medidas restritivas que obriguem de facto as pessoas a evitar certos comportamentos perigosos». À margem das comemorações do centenário dos Voluntários de Gouveia, no domingo, o governante citou o exemplo da sinistralidade rodoviária, onde «quando o condutor não aprende por si próprio tem que a ser a lei, de certo modo, a impor o cumprimento do código». Um cenário que julga ser necessário para evitar os fogos florestais: «Apostamos numa política dura para criar uma situação cada vez mais segura, porque não podemos acreditar que Portugal esteja condenado a ser um país de incêndios todos os anos», referiu Figueiredo Lopes.

Luis Martins

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