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Estado cria gabinetes técnicos florestais para maior eficácia no combate aos incêndios

Elaborar cartografia de uma área supramunicipal não inferior a mil hectares e identificar zonas de risco ou de abandono são primeiras tarefas atribuídas

O secretário de Estado das Florestas anunciou sexta-feira em Trancoso a criação de gabinetes técnicos florestais (GTF’s) em vários municípios do país até ao final do ano. À margem da inauguração da Feira de São Bartolomeu, Luís Pinheiro explicou que aqueles organismos serão responsáveis pela elaboração da cartografia florestal de uma determinada área supramunicipal com características semelhantes, mas também da delimitação de zonas de risco de incêndio e de áreas de abandono nesse espaço que nunca será inferior a mil hectares. Tarefas que ficarão consagradas nos acordos a celebrar com as autarquias após a identificação da respectiva Zona de Intervenção Florestal.

«O objectivo é tentar fazer convergir para esse espaço tudo o que é prevenção, investimentos e eventualmente reestruturação fundiária, o que dependerá muito da vontade local. Trata-se de um projecto que bebe um pouco daquilo que tem sido o processo Leader», explicou o governante. Luís Pinheiro adiantou, por outro lado, que o objectivo desta iniciativa visa a «coerência e a eficácia» no combate aos fogos florestais. «Acreditamos serem estas algumas das soluções que nos vão garantir as condições para nos defendermos e motivar bombeiros, sapadores, vigilantes e agentes ligados à floresta no combate a este flagelo», sublinhou. Contudo, a implementação destes gabinetes, que vão dispor de dois mil euros mensais para despesas de funcionamento, ainda está dependente da concretização prévia das Comissões Municipais de Defesa da Floresta, enquanto se aguarda até ao final do ano pela conclusão do Plano Nacional de Prevenção e Protecção da Floresta Contra Incêndios. O secretário de Estado revelou ainda que o Estado conta modificar a actuação das equipas de sapadores florestais, apostando, por um lado, na formação e na área da primeira intervenção, mas sobretudo responsabilizando-os mais «na intervenção e gestão da floresta, de forma a criar condições para que ela aguente algumas negligências».

Outra matéria que importa resolver é uma maior sensibilização das pessoas e proprietários, alguns dos quais continuam a fazer queimadas em períodos nada propícios. «Nunca seremos eficientes neste combate se alguns portugueses continuarem a comportar-se como se o assunto não fosse com eles», avisa Luís Pinheiro, para quem o cidadão e o proprietário florestal têm um papel efectivo nesta matéria, que é não fazer fogo, limpar à volta da sua casa e das suas aldeias: «Com esse tipo de atitudes estamos a criar condições para que os bombeiros possam fazer o combate aos incêndios florestais e não ter, como verificamos actualmente, que ir defender pessoas e bens», refere. Quanto ao facto de técnicos americanos terem recentemente considerado que o sistema português de prevenção e combate a incêndios estava muito ultrapassado e não era muito eficaz, o governante contrapõe que a nossa história florestal é «o resultado do abandono das terras, da emigração e de uma mudança histórica na vida do mundo rural». Um abandono que se traduziu, na sua opinião, em «imensos» ganhos de combustível que nunca foram intervencionados ao longo de muitos anos.

«Estamos a fazer esforços há muito poucos anos nessa matéria e temos consciência que é um trabalho para continuar», diz, esperando que o trabalho dos americanos, financiado em parte pela sua secretaria de Estado, sugira as mudanças «que forem necessárias» no combate e prevenção dos fogos florestais. A vinda do secretário de Estado das Florestas coincidiu com a divulgação do mais recente relatório da Direcção-Geral das Florestas, onde a Guarda ocupa o nono lugar no “ranking” das áreas ardidas este ano por distrito, com apenas 3.580 hectares consumidos pelo fogo até 8 de Agosto. Muito menos que os 5.877 hectares registados em Castelo Branco (quarto dessa listagem) em igual período e incomparavelmente distante dos assustadores 30.458 hectares queimados no distrito de Faro, que ocupa o primeiro lugar.

Luis Martins

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