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Estabilidade…

Crónica Política

O actual momento político apenas me sugere uma palavra: perplexidade!

Tudo começou quando o “renegado” Durão Barroso decide assumir, apenas, o mais alto cargo de política europeia. Julgava eu que era uma honra. Que era dignificante para Portugal. Que encheria de orgulho todos os portugueses… O cargo que, invejosos, esperávamos ver entregue às grandes potências europeias e que, diríamos, era inalcançável por Portugal, de tão prestigiado e influente. Afinal estava enganado: Barroso fugiu e deixou o país numa lástima…

Estranho patriotismo este, que diz imprescíndível ao país um nosso governante, em prejuízo da sua dimensão de grande político europeu!

Lamento discordar. Durão Barroso arrisca-se, tão somente, a ficar na história recente da União Europeia, como um dos mais importantes vultos políticos. A par de Jacques Dellors. Não nos esqueçamos da Constituição Europeia, da defesa comum, da diplomacia autónoma e, talvez para breve, dos impostos supra-estaduais; juntamente com o desafio do alargamento a 25. Fora a influência a favor de Portugal na negociação de dossiers europeus. Pouco, portanto…

A instabilidade política está assim justificada. O resto da história ficará, infelizmente, nos anais do regime democrático, sabe-se lá com quais consequências.

Suponha-se que Santana Lopes ganha as próximas eleições legislativas. E que, por mera hipótese, sozinho ou em coligação com o PP, obtém uma maioria parlamentar. O que se segue, a partir de agora, é que o governo deve seguir directrizes bem delineadas pelo Presidente da República. Tem de cumprir escrupulosamente o seu programa. Não deve substituir ministros ou até secretários de estado. E as declarações devem ser prudentes… Tudo sob pena do governo cair, com nova convocatória de eleições, qual espada de Dâmocles. Temos assim criado um novo e imprevisto regime presidencialista. E nada impede que as eleições se sucedam ao ritmo mensal, o que me parece bem, tendo em conta os vários milhões de contos que todo o processo eleitoral custa ao erário público!

Neste curioso ciclo político, a perplexidade prossegue com o novo paradigma do que é ser de esquerda. Ser de esquerda é agora não concordar com o aumento da carga fiscal para os mais ricos em favor dos mais pobres. E não votar orçamentos que contemplem medidas de combate à evasão fiscal. É defender intransigentemente o tecto dos 3% do défice orçamental. É criticar medidas de relançamento económico, quando há quatro meses se anunciava que tinha de haver “vida para além do défice”. Ser de esquerda é agora votar contra o Orçamento de Estado, desejando-o… Um orçamento que se exige submetido à aprovação da Assembleia da República em vias de dissolução, mas realizado por um governo demitido… Confuso?

É evidente que o tirocínio de Santana Lopes como estadista ainda não terminou. E não foi feliz, nesta sua experiência de governo. Também é evidente que muita gente, mesmo dentro do seu partido, não gosta dele. Mas interromper uma legislatura em que existe uma maioria parlamentar estável, é batota política.

O Dr. Jorge Sampaio precisava provar que era de esquerda. Provou-o, com juros! Tomadas as medidas difíceis, quando o governo se preparava para beneficiar do novo ciclo económico de crescimento, é demitido. E o poder entregue de mão beijada a José Sócrates. Sem saber ler nem escrever! Era difícil o Presidente da República prestar melhor serviço ao seu partido!

Que o espírito de Natal prevaleça, neste agitado país político. Para todos os leitores d’O Interior, votos de Festas Felizes!

P.S. – Esta crónica estava redigida na semana passada, antes do pedido de demissão do governo. Infelizmente mantém a actualidade. Santana Lopes fez bem em pedir a demissão, em coerência com os argumentos invocados pelo Presidente da República. Ao menos que não se diga que aproveitava actos de governo para fazer campanha eleitoral.

Por: Rui Quinaz

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