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Escarigo abre a porta a “Novos Encontros”

Projecto é apoiado pelo INTERREG para revitalizar social e economicamente várias localidades, seis das quais espanholas

Escarigo, aldeia do concelho de Figueira de Castelo Rodrigo, viveu no último sábado um «momento histórico» com o lançamento da primeira pedra da ponte rodoviária do Alinguel que vai permitir a passagem de veículos pesados pela aldeia. Uma obra apoiada pelo projecto “Novos Encontros”, apresentado nesse dia, que, no âmbito do programa de cooperação transfronteiriça INTERREG III A, pretende revitalizar social e economicamente Escarigo e seis aldeias do lado espanhol. No entanto, nem tudo foi motivo de alegria, já que o presidente da Junta de Freguesia local mostrou o seu desagrado por nenhum representante do Governo português ter assistido à cerimónia.

José Parcerias realça que a nova ponte, cujas obras deverão arrancar dentro de três semanas,

vai ligar as aldeias de Escarigo, Vermiosa e Almofala, representando o «fecho de um círculo», uma vez que o concelho passa a estar ligado «por todos os lados». Isto porque a construção desta ponte rodoviária «vai permitir a passagem de camionetas de passageiros», o que até agora não era possível. «Quem vinha da Vermiosa e de Almofala tinha que voltar para trás porque em Escarigo não havia hipótese de prosseguir», explica o presidente da Junta da aldeia candidata a Património Rural da Humanidade. Para além da ponte rodoviária, Escarigo beneficiará ainda de verbas para a recuperação de algumas fachadas e de toda a zona do Ribeiro. O que só é possível graças aos “Novos Encontros”, um projecto transfronteiriço em que Escarigo é a única aldeia do lado português a ser beneficiada, conjuntamente com seis municípios espanhóis da Associación Ayuntamientos Alto Alagón: Casafranca, San Miguel de Valero, Endrinal, Frades, Los Santos e Monléon.

O projecto propõe um encontro entre o «desenvolvimento rural» e a «preservação da identidade cultural» das várias aldeias envolvidas, bem como um «novo encontro com o património cultural tradicional, em vias de esquecimento, para o recuperar e converter numa ferramenta de desenvolvimento». Em suma, graças ao INTERREG vão ser feitas algumas actividades com o intuito de promover a «revitalização social e económica» do meio rural luso-espanhol do Alto Alagón e de Escarigo. Antonio del Rey, presidente da Associación, chefe de fila da candidatura, adianta que o projecto tem um investimento inicial de mais de um milhão de euros, 75 por cento dos quais provêm da União Europeia através do FEDER e do INTERREG IIIA. Quanto aos restantes 25 por cento terão que ser os sócios «a avançar com o dinheiro para financiar os diferentes projectos a realizar em cada uma das localidades», salienta. Para Jesus Málaga, sub-delegado do Governo espanhol em Salamanca, as relações com esta zona de Portugal são «fundamentais». De resto, salientou a importância de existirem actualmente dois Governos socialistas na Península Ibérica, pelo que «há que tentar apoiar todos os projectos que tragam benefícios para os dois lados», enaltece.

Governantes portugueses «desconsideraram» Escarigo e «toda uma região»

Mas se do lado espanhol esteve presente um representante do Governo, o mesmo não aconteceu com os portugueses, isto apesar dos muitos contactos efectuados pelo autarca local. «Mandaram-me cartas todas as pessoas que convidei do nosso Governo e da Assembleia da República a dizer que já havia outros assuntos marcados», revela José Parcerias. Já em Espanha, o Ministro do Trabalho e dos Assuntos Sociais «garantiu-me que estaria aqui, mas como lhe foi impossível, teve o cuidado de me mandar um e-mail a pedir desculpa e a dizer que estava no Uruguai». Perante este cenário, o autarca conclui que Escarigo «é realmente muito pequeno» e «não tem a notoriedade de Lisboa ou do Porto». Para José Parcerias, a agir deste modo, os nossos governantes «não desconsideraram só Escarigo, mas toda uma região. Agora porquê? Não sei», lamenta. A Câmara de Figueira de Castelo Rodrigo esteve representada pelo presidente da Assembleia Municipal, Mário Salvado.

Ricardo Cordeiro

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