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E Você, Ainda Acredita no Pai Natal?

Quebra-Cabeças

Relata o Expresso deste último sábado, no seu suplemento de economia, que na opinião de um dos maiores especialistas mundiais do assunto, o iraniano Ali Bakhtiari, o preço do petróleo pode chegar no próximo Inverno ao máximo nominal histórico de 60 dólares o barril. O problema nem é tanto este, que a economia mundial tem revelado capacidade para se acomodar aos recentes aumentos (embora estes venham claramente a atrasar a tão prometida retoma). O problema é que os aumentos, mais do que meramente conjunturais, parecem ter origens muito mais profundas e sistémicas do que a instabilidade no Iraque ou no Médio-Oriente.

De facto, há a questão das grandes economias emergentes, como a indiana e, principalmente, a chinesa, esta última em fase de crescimento acelerado, com taxas há muito esquecidas pela união europeia e que implicam, já, que o seu consumo de petróleo per capita vai crescer a um ritmo pelo menos equivalente ao do crescimento geral da economia. Dentro de dois ou três anos, adverte Bakhtiari, vamos atingir o pico de produção mundial de petróleo, o máximo acima do qual será impossível produzir mais e a partir do qual a produção irá gradualmente diminuir – e pelo menos a economia chinesa, por sua parte, vai continuar a crescer…

Até lá, e mesmo a partir daí, o preço do petróleo vai obedecer às únicas leis actualmente em vigor na economia mundial: as leis do mercado. Por isso, se o produto é escasso e a procura aumenta nada, nem ninguém, pode prometer um abaixamento do actual preço, que parece estabilizar acima de 50 dólares o barril, pelo menos em valores significativos. Por isso, um governante inteligente, honesto, previdente, vai fazer as suas contas a partir de um preço base para 2005 ao nível do actual. Se for optimista contará que baixe um bocadinho, mas não cometerá a loucura que cometeram os nossos governantes no último orçamento, que contaram para 2005 com um preço médio anual de 38 dólares o barril.

Extraordinária é a resposta dada às objecções dos jornalistas, que os confrontaram com os actuais preços: em França e em Espanha os orçamentos foram feitos no pressuposto de preços ainda mais baixos. Quer isto dizer que a justificação para um erro são os erros ainda maiores dos outros? Claro que não. A questão é que todo o frágil edifício deste orçamento assenta sobre este número e que sem ele seria de todo impossível garantir aumentos salariais, aumentos das pensões, descida dos impostos, manutenção do défice dentro do limite dos 3 por cento…

Bem, era isto ou acreditar que o Pai Natal iria depositar os biliões em falta nos cofres do Estado, que no fundo aquilo de que se trata é acreditar que um acontecimento de todo improvável vai resolver os nossos problemas. Não tarda estão a especular nos mercados internacionais com o que resta das nossas reservas de ouro, isto depois de venderem ao melhor preço a Caixa Geral de Depósitos.

Por: António Ferreira

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