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«Com este romance tentei descobrir o contexto em que nasci»

O escritor José Luís Peixoto apresentou o seu último romance, “Livro”, na Biblioteca Municipal Eduardo Lourenço

No seu novo romance, José Luís Peixoto parte à descoberta de um país. «Escrever este livro foi tentar descobrir o contexto em que nasci», adiantou o escritor, na passada quarta-feira, na apresentação da obra na biblioteca da Guarda.

José Luís Peixoto nasceu em 1974, em Galveias (Ponte de Sor). Com “Livro”, recua no tempo para compreender e retratar a sociedade portuguesa dos últimos 50 anos. Para isso, não esconde o quão indispensável é abordar o tema da emigração, realidade que marcou e continua a marcar a vida dos portugueses. Das gentes que partiram, mas também das que sempre regressam. «Este romance tenta demonstrar que o povo português foi em muitos aspectos heróico, já não heróis no mar, mas na terra, porque nestes 50 anos conseguimos uma evolução e adaptação surpreendentes», explicou o autor. «Seria pouco digno se não reconhecêssemos que os emigrantes tiveram um papel importante nessa evolução», defendeu. “Livro” começa em 1948 e tem dentro palavras trazidas pelos emigrantes. Porque, na sua opinião, elas são mais importantes do que os estrangeirismos que agora se utilizam.

Perante cerca de uma trintena de pessoas, José Luís Peixoto caminhou pelas linhas do seu novo romance e começou por dizer que foi «uma ousadia» dar-lhe o nome de “Livro”.

Foi, aliás, por aí que tudo começou. Pelo título. «Este romance teve como ponto de partida o título, mas esse foi também um aspecto que tive sempre presente no momento em que estava a escrevê-lo», referiu, acrescentando que um título como este «precisa de ser justificado». E para saber o porquê desta escolha «as pessoas precisam de ler o livro, a resposta está nestas páginas», declarou. Depois de apresentar o romance e ler algumas passagens, o autor quis ouvir os leitores. Na plateia, jovens de 14 anos tinham nas mãos três ou quatro obras suas, enquanto a maioria dos adultos compareceu com o “Livro”. Na conversa que se seguiu, uma senhora começou por discordar do autor por não achar uma «ousadia» chamar “Livro” a este romance.

Mas o que pretendia verdadeiramente era debater a forma como a história acaba. Ou melhor, como não acaba. José Luís Peixoto respondeu que preferiu deixar esse «fim» em aberto, como uma espécie de vazio que cada leitor terá de preencher. Para promover “Livro”, o escritor tem percorrido Portugal «num encontro» com uma grande diversidade de leitores. A vinda à Guarda resulta de uma tentativa de se «aproximar e conversar mais» com os seus leitores. «Se queremos lidar com as pessoas, só temos a ganhar com essa aproximação. Além disso,eu próprio sou do interior, por isso, sei bem o que é isso do interior ser um pouco esquecido», confessou. Este é o quarto romance de José Luís Peixoto, que começou a sua viagem pela escrita com a pequena ficção “Morreste-me”, publicada pela primeira vez em 1996 nas páginas do suplemento literário “DN Jovem”.

Para terminar a sessão guardense pediu a um dos presentes esse primeiro texto e, antes de ler uma passagem, citou outro autor e disse: «Vamos partir agora. Não tem de ser triste».

Catarina Pinto Jovens e escritor conversam sobre novo livro e romances anteriores

«Com este romance tentei descobrir o
        contexto em que nasci»

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