Arquivo

Arquivo à solta no Hospital

Por causa do vento e da chuva dos últimos dias, parte do arquivo do Hospital da Guarda voou pelo Parque da Saúde

Basta um pouco de vento e chuva para que alguns processos e documentos do arquivo do Hospital Sousa Martins fiquem espalhados pelo antigo sanatório. Foi o que aconteceu na passada sexta-feira junto ao pavilhão D. António de Lencastre, também conhecido por pavilhão nº2, no Parque da Saúde da Guarda. Após o mau tempo que se fez sentir nos dias anteriores foram vários os papéis que voaram do edifício degradado e que se espalharam pela sua envolvente. No amontoado de papéis podiam encontrar-se desde processos clínicos antigos até comunicados do Ministério da Saúde, bem como documentos da contabilidade e de outros serviços administrativos. Documentos antigos, outros mais recentes, que puderam ser consultados por qualquer transeunte com alguma curiosidade que por ali passasse ou estacionasse o seu veículo, onde constam fichas completas com os nomes dos pacientes e dos médicos. Alguns dos processos que “O Interior” pôde consultar diziam respeito a casos de tuberculosos que remontam aos anos 60, mas também será possível encontrar outros ficheiros clínicos mais recentes, «pelo menos até há cinco anos atrás», disse fonte hospitalar contactada por “O Interior”. O pavilhão nº2 do antigo sanatório, nas traseiras das Urgências, guarda ainda um vasto arquivo de dossiers antigos. Mas as janelas partidas e as portas abertas do antigo edifício permitem que esta situação aconteça sempre que haja uma rajada de vento mais forte. Já houve um Plano Director que contemplava a remodelação daquele e de outros edifícios históricos – actualmente muito degradados – do Parque da Saúde, mas com as mudanças políticas os projectos acabaram por ficar arrumados na gaveta. Entretanto, o arquivo continua a aumentar. Mais à frente, noutro edifício inacabado que serve de armazém, os processos estão arrumados em gavetas amontoadas junto a equipamentos hospitalares mas a céu aberto, pois a infraestrutura não tem telhado. É contra este cenário degradante numa área vocacionada para a saúde que Hélder Sequeira defende, no seu livro “O Dever da Memória”, a necessidade urgente em «preservar o património edificado, promover o seu estudo, divulgação e animação, garantindo-o como espaço da saúde e de cultura, afirmando-o como Museu vivo e recusando que se transforme num túmulo de memória». “O Interior” tentou contactar a administração do Hospital Sousa Martins, mas ninguém esteve disponível para esclarecer a situação até ao fecho desta edição.

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