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Antero Cabral Marques compra Gartêxtil

Património da antiga fábrica de confecções foi vendido numa única licitação de 1,660 milhões de euros

Uma única proposta foi suficiente para vender todo o património da Gartêxtil, leiloado na última sexta-feira por 1,660 milhões de euros. Antero Cabral Marques nem deu tempo ao leiloeiro de acabar algumas explicações preliminares e ofereceu de imediato mais 10 mil euros sobre o preço base de licitação do lote constituído pelo imóvel, equipamento e matéria-prima. Uma oferta que arrumou definitivamente um leilão que atraiu até às instalações da antiga fábrica da Guarda-Gare cerca de 70 licitadores, entre industriais de confecções e de lanifícios, bem como empresários do ramo imobiliário.

O construtor guardense calou tudo e todos ao ficar com tudo em apenas cinco minutos, naquele que já é considerado um dos leilões mais rápidos do sector. «Trazia a ideia de que tinha que se resolver à primeira e que seria mais difícil à segunda ou à terceira. Por isso, avancei logo. É que os restantes licitadores queriam isto mais barato, mas eu entendo que vale dinheiro e a forma de resolver o assunto mais depressa foi comprar tudo junto», afirmou pouco depois aos jornalistas. Quanto ao futuro do património adquirido, Antero Cabral Marques, proprietário de grande parte dos terrenos da zona do rio Diz, disse não ter ainda uma ideia do que vai ser, mas é certo que será para mudar de ramo. «Será, porventura, um projecto imobiliário e de desenvolvimento para a Guarda», promete, recusando revelar se está associado a alguém neste novo empreendimento. «Isso não posso dizer agora», referiu. Quanto ao facto do terreno ser vocacionado apenas para indústria no PDM da cidade, o empresário mostra-se confiante: «Para nós não há inconveniente ser industrial ou habitacional, eu sei o que está aqui e o valor em causa, senão não comprava», reiterou.

Antero Cabral Marques adquiriu um terreno com cerca de 8.500 metros quadrados, avaliado em 1,5 milhões de euros. Mas também equipamento e maquinaria de confecção diversa, bem como tecidos, acessórios, peças de vestuário, mobiliário de escritório e cinco viaturas, cujo valor foi estimado em 150 mil euros. Bens que formavam um único lote levado à praça por 1,650 milhões de euros, mas só mais 10 mil euros bastaram para arrematar tudo. O presidente do Sindicato Têxtil da Beira Alta (STBA) também ficou surpreendido com a rapidez do leilão: «Nunca tinha visto nada assim tão rápido», admitiu Carlos João, que gostaria de ver a fábrica a laborar novamente. «Quando um interessado compra o imóvel e os bens, tenho sempre a esperança que ainda seja possível ver esta casa a trabalhar. Mas não sei se Antero Cabral Marques está interessado em ser um industrial de confecções», disse. O sindicalista considerou igualmente que o património foi vendido a um preço «muito baixo», contudo, o montante assegurado cobre toda a dívida aos trabalhadores, cerca de 1,5 milhões de euros.

Entretanto, a Caixa Geral de Depósitos (CGD) já reconheceu os créditos dos antigos funcionários da empresa, viabilizando assim o pagamento prioritário das suas indemnizações com a receita do leilão da semana passada. Contudo, Carlos João lamenta que fique por fazer a história da falência da Gartêxtil. «Este caso é uma grande derrota do Estado, que investiu aqui dois milhões de euros, porque este património foi destruído em quatro anos e vendido por metade do preço. Isto deveria dar que pensar aos nossos governantes quanto à forma como investem e depois não fiscalizam a aplicação dos apoios concedidos», alertou. Quem espera que o assunto fique definitivamente encerrado é Maria João Videira. A antiga trabalhadora confidenciou ter sentido «muita tristeza por perdermos tudo», mas também uma «grande alegria» por acreditar agora que já vai receber a indemnização a que tem direito. «Como ainda estou desempregada, esse dinheiro vai ajudar mas não resolve tudo», sublinhou.

Luis Martins

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