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Água da Ribeira de Aldeias utilizada nas obras da Variante de S. Julião

Autarca da freguesia do concelho de Gouveia desdramatiza cenário “negro” traçado pela CDU

«Exagerado» e «campanha política». É deste modo que o presidente da Junta de Freguesia de Aldeias reage à denúncia da CDU de Gouveia sobre a «utilização abusiva» da água da ribeira da localidade na construção da Variante de S. Julião, uma das grandes obras do mandato do actual autarca gouveense, Álvaro Amaro.

Em comunicado, a Comissão Coordenadora de Gouveia da CDU considera «preocupantes» as denúncias que lhes têm chegado por parte de agricultores e populares, «confirmadas no local», da «utilização abusiva e sem critério» da água da Ribeira das Aldeias para a «rega do piso e feitura de massas» para as obras da Variante de S. Julião. Os comunistas falam num «rodopio permanente» de tractores cisternas a encher à Ponte de Moimenta e nas Aldeias, «reduzindo a zero o caudal ecológico da ribeira», garantem. Dizem também que, interrogados motoristas e responsáveis da obra sobre quem lhes deu autorização para a utilização da água, estes apontam «sempre» a Câmara de Gouveia. De resto, num ano em que a seca é uma evidência, os comunistas gouveenses entendem que a edilidade «deveria, no mínimo, ponderar as consequências negativas da sua indevida autorização», tanto para o abastecimento público de água às populações, como para a «rega agrícola» e para a «sobrevivência da fauna piscícola». Para a CDU de Gouveia, as consequências visíveis da drenagem permanente da água da ribeira para as obras resultam na «impossibilidade actual de qualquer tipo de rega dos prados» a jusante da Ponte de Moimenta. Mas também na «morte de centenas de peixes devido à não renovação da água» e, caso não seja posto cobro a este «desaforo», no «risco de ruptura no próprio abastecimento público de água às populações», nomeadamente a Moimenta da Serra.

A CDU admite como «pretensão legítima» que a autarquia queira ter a variante pronta antes das eleições de Outubro, mas defende que «não pode trocar esse objectivo político pela preservação ambiental e pelo interesse dos agricultores e das populações». Por último, os comunistas consideram que a Câmara deve encontrar alternativas para que o fornecimento de água à empreitada seja efectuado «sem o recurso intensivo» à Ribeira das Aldeias: «Deve ser a Câmara a procurá-las e a comunicá-las aos empreiteiros. A retirada de água da Ribeira das Aldeias deve cessar imediatamente para que o desastre ecológico que já se verifica não venha a ter consequências ainda mais gravosas», avisam. Confrontado com estas críticas, Manuel Nogueira Verdelhos, presidente da Junta de Freguesia de Aldeias, desdramatiza o cenário traçado pela CDU. Apesar de reconhecer que está a ser retirada água da ribeira da freguesia para a construção das obras da Variante, o autarca, eleito como independente, considera que tudo não passa de «campanha política», classificando mesmo de «exagerado» o comunicado. Para Manuel Nogueira Verdelhos trata-se de uma questão de «solidariedade».

«As obras não podem parar e nós temos que ser solidários nestas coisas, porque se temos água, temos que a dar», frisa. Aliás, «as obras precisam de ser feitas e se queremos progresso por um lado, também temos que, de alguma forma, ser prejudicados por outro», admite, reconhecendo a existência de «alguns problemas» causados a alguns agricultores, «mas nada que não seja ultrapassável», garante. Segundo o presidente da Junta, não há nenhuma alternativa porque «não há água noutro lado», diz, sublinhando que a situação «não é preocupante». Quanto à alegada morte de peixes, refere que «infelizmente, nem há peixes na ribeira», assumindo a responsabilidade da decisão de autorizar a captação de água para as obras da Variante de S. Julião. «Isto é campanha eleitoral e política. No comunicado, eles responsabilizam a Câmara Municipal, mas esta não tem nada a ver com o que se está a passar. Quem autorizou essas coisas fui eu, o presidente da Junta, e não a Câmara», esclarece. Apesar das tentativas, “O Interior” não conseguiu contactar Álvaro Amaro, presidente da Câmara de Gouveia, a propósito deste assunto. ”

Ricardo Cordeiro

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