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A escrita e os livros em debate na Festa do Livro

Manuel da Silva Ramos, Nuno Amaral Jerónimo e Diogo Cabrita encontraram-se a 30 de Julho

Manuel da Silva Ramos, um dos mais fecundos escritores portugueses, passou pela Festa do Livro de O INTERIOR. A 30 de Julho, o romancista natural da Covilhã encontrou-se com Nuno Amaral Jerónimo e Diogo Cabrita, colunistas deste jornal, para debater o mundo da escrita, desde o acto criativo ao panorama da literatura portuguesa actual, sem esquecer o papel que as novas tecnologias já têm e podem vir a desempenhar.

Manuel da Silva Ramos apaixonou-se pelas letras após ler “Uma Família Inglesa”, de Júlio Dinis. Da leitura à escrita foi um pequeno passo, que, após anos sucessivos de exílio e 14 obras editadas, se transformou numa caminhada respeitável. Escritor de corpo e tempo inteiro, o autor denuncia a «banalização e standardização» da literatura: «Os editores estão a condicionar a literatura e a esmagar a veia criadora», acusa. Um condicionamento que põe em causa a necessária originalidade, até porque «o romance deve ser construído como uma obra de arte», defende. Já Diogo Cabrita fez questão de distinguir a literatura de outras actividades da escrita, tendo responsabilizado os editores por outro fenómeno, de consequências semelhantes: «Hoje publica-se tudo e isso é que é a verdadeira banalização da literatura», lamentou. Um fenómeno potenciado pelas novas plataformas da comunicação, acrescentou Nuno Amaral Jerónimo, socorrendo-se de um sociólogo americano: «Há cada vez menos gente a ler, mas cada vez mais gente escreve», afirmou.

Uma escrita que se desenvolve, por exemplo, em blogues (segundo este professor de Sociologia na Universidade da Beira Interior, há cerca de 100 mil só em Portugal) e nos telemóveis, um objecto originalmente oral, mas através do qual os jovens comunicam, sobretudo, de forma escrita. «A própria Internet, salvo o You Tube, é construída por texto», exemplificou. Dados que, quando se questiona uma hipotética substituição do livro por plataformas electrónicas, levam o cronista a acreditar que, «independentemente do futuro do livro, o texto não vai desaparecer». Para o seu próximo livro – o 15º –, Manuel da Silva Ramos vai usar uma das muitas histórias construídas à volta do contrabando na zona raiana do Sabugal. Mas a perspectiva do acordo ortográfico fá-lo perspectivar um futuro com reconhecimento. Integrado no grupo Leya, o romancista poderá ver muito brevemente as suas obras entrarem com grande pujança nos vários mercados lusófonos.

Quanto a Portugal, o covilhanense critica algum pudor da parte dos editores – que, por exemplo, consideraram uma “blasfémia” ter chamado “Os Lusíadas” a uma obra conjunta com Alface – e o esquecimento a que foram votados muitos escritores, manifestando apenas a ambição pessoal de conseguir «escrever um livro que mude a vida de uma pessoa». A abrir esta tertúlia, os “Lendários dos anos 50”, um trio de Seia formado por José Hortênsio, Virgílio Silva e Cesário Mota, recordaram músicas de outros tempos.

Igor de Sousa Costa

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