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A crise global, a dos outros e a nossa

Crónica Política

Se há palavra hoje tão corriqueira é a palavra crise.

Ouvimo-la de forma tão insistente e a toda a hora, que já não há conversa, discurso, ou simples encontro de amigos, em que ela esteja ausente.

Nós portugueses e guardenses, até parece que já a trazemos por fatalidade no ADN. Talvez por isso o fado, a melancolia e a resignação.

E se num assomo de optimismo procuramos a ela reagir, começamos por tentar encontrar fundamentos que interiormente nos convençam que, afinal a crise não é tão grave, que ainda há muita coisa e muita obra positiva e que afinal vale a pena lutar e acreditar que no futuro tudo será diferente, pelo que devemos fazer mais esforço, tanto individual como colectivo.

E nesta reflexão, olhando para a Guarda, verificamos a eminência de atingirmos valores de desemprego muito elevados, dado o mais que provável encerramento de grandes empresas empregadoras.

Não obstante, a Plataforma Logística e a nova área empresarial continuam a marcar passo, pois mesmo concluídas, não permitem ainda a instalação de novas empresas e, nessa medida, ajudar a minorar a vaga de desemprego que se anuncia.

Na construção civil está tudo parado e o número de casas novas e usadas para venda atinge larguíssimas centenas.

O Hospital novo ou requalificado, que serve de argumento a tantas promessas políticas, a cada passo surge um novo entrave para justificar o seu adiamento.

Agora é a burocracia associada aos apoios comunitários, que pelos vistos ninguém deu conta que era preciso cumprir, como se de um projecto inédito no país se tratasse, ou só agora existissem as regras que regulam estes apoios! Continua aqui o ser bem verdadeiro o princípio de ver para crer.

A influência dos nossos políticos junto dos grandes centros de decisão não tem passado de simples auréola, sem qualquer resultado concreto e visível, pois na realidade ninguém lhes liga. Ter amigos na política só funciona quando eles precisam de nós, caso contrário, sentem-se até mais à vontade para colocar de lado os nossos pedidos.

Feitas as contas o que temos nós de novo?

Um teatro, um Centro de Estudos Ibéricos, uma Biblioteca e um espaço de lazer no Rio Diz.

Mas será que é isto que vai criar a riqueza de que tanto precisamos? E que vai criar novos empregos para os desempregados?

Talvez valha a pena reler a fábula da cigarra e da formiga e entende-la no nosso contexto.

Nesta época pré-eleitoral, fazendo um balanço, fica-nos o sentimento que continuámos a perder tempo, dinheiro e oportunidades, ganhando a frustração de expectativas e promessas não cumpridas.

A única resposta para a presente situação não pode ficar mais nas promessas, mas sim nas mudanças.

Mudança de políticas, de dinâmicas e de pessoas. Mudança com base na presente realidade, que seja viável e não utópica, e acima de tudo que seja credível e séria.

O conservadorismo do nosso eleitorado, quiçá pouco exigente e resignado, não irá facilitar que qualquer mudança se opere, bastando-lhe ouvir repetidas promessas para descomprometidamente aceitar soluções de continuidade.

É por isso que qualquer mudança proposta tem de ser acompanhada pelo renascer da esperança e da ambição em ultrapassarmos esta ideia de “buraco” em que estamos metidos, sem dinheiro, sem ideias, sem projectos, sem fé, e pior ainda, sem vontade.

As eleições americanas têm sido pródigas em ensinamentos. Espero que na Guarda elas possam também servir de fonte inspiradora.

Por: Álvaro Estêvão *

* deputado pelo CDS-PP na Assembleia Municipal da Guarda

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