Em lituano, os apelidos das mulheres mudam de acordo com o seu estado civil. O sobrenome das mulheres solteiras é o do pai mais a terminação -itė ou -ytė, o das mulheres casadas é o do marido juntando-se a terminação -ienė. Para os homens, não existe essa variação. É sempre igual ao do pai, o que é um pouco injusto. Também podia haver uma terminação especial para homens solteiros, mas isso agora não vem ao caso. A verdade é que aquilo que se perde em direitos iguais e justiça social, ganha-se em clarificação. Ou ganhava-se. Acontece que agora muitas mulheres divorciadas mantêm o nome do casamento e muitas mulheres casadas mantêm o apelido de solteiras. Se é para isso, mais vale acabar com a tradição, que uma pessoa assim mete os pés pelas mãos. Com estas modernices, a confusão ficou ainda maior do que em Portugal, onde a multiplicação de apelidos faz com que na mesma família, homem, mulher e filhos possam ter três ou até quatro últimos nomes diferentes entre si. Algumas mulheres lituanas hifenizaram o nome de casada com o apelido de solteira, num nome composto. Sabendo que muitos apelidos lituanos têm cinco e seis sílabas, há nomes compostos que eu demoro quase um minuto a dizer.
O meu duplo apelido também causa alguma confusão. No entanto, várias pessoas com quem tenho de explicar para que quero tantos nomes acabam por ficar agradadas com a ideia de ter um sobrenome da mãe e outro do pai, porque consideram uma prática muito justa e até muito progressista. O que em Portugal muita gente acha classista ou pedante, aqui é justiça e progresso. É o habitual, é preciso ir para o estrangeiro para ver reconhecido o valor. No meu caso é apenas o valor de usar dois sobrenomes, porque o resto nem aqui melhorou. Mas como diz o povo, mais vale um elogio na mão do que dois apelidos no ar.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia
Nuno Amaral Jerónimo está em Vilnius a convite da Vilnius Tech University