A valsa autárquica: os passos de Rui Rio e o compasso de Chaves Monteiro

Escrito por Pedro Fonseca

Rui Rio perdeu as eleições europeias e perdeu as eleições legislativas. Seguem-se as eleições autárquicas. Também deve sair derrotado destas, segundo previsão do próprio. Se assim for, será protagonista de um ciclo político verdadeiramente notável enquanto líder do PSD: três atos eleitorais, três derrotas!

Mas Rui Rio não tenciona ir embora. Longe disso. Quer disputar as próximas eleições legislativas e capitalizar no desgaste do Governo de António Costa. O desgaste é indisfarçável, mas as sondagens não revelam um PS a perder terreno e um PSD a ganhar impulsão.

Nas próximas autárquicas, Rui Rio dará três passos sincronizados, como quem dança a valsa, procurando dar a ilusão de vitória em mais uma derrota. São estes os passos que lhe restam para assegurar a sua sobrevivência política e continuar a acalentar a ambição de ser primeiro-ministro.

O primeiro passo é relativizar a derrota: perder para o PS, mas perder por menos do que em 2017, ou seja, reduzir o diferencial de número de Câmaras para o partido rival.

O segundo passo é ficar à frente do PS na maioria das capitais de distrito, o que, nalguns casos (como o Porto, por exemplo) não significa, necessariamente, conquistar a respetiva câmara municipal.

O terceiro passo é inflacionar a importância do embate em Lisboa, onde já se sabe que o PSD terá um resultado astronomicamente superior ao que obteve em 2017 e onde poderão estar reunidas as condições para conquistar a Câmara.

A Câmara da Guarda é peça fundamental da estratégia de Rui Rio. Das 18 capitais de distrito, o PS e PSD (incluindo em coligações) são poder em igual número: 7 câmaras municipais. Se a Câmara da Guarda cair, a probabilidade de um segundo passo em falso dispara.

Foi Rui Rio quem escolheu Chaves Monteiro. Era a escolha óbvia, como óbvia era também a continuação do clima de divisão nas hostes laranjas independentemente de quem fosse o candidato escolhido.

O atual presidente da Câmara da Guarda terá a sua prova de fogo, uma eleição do “tudo ou nada”, onde perder significará desaparecer e vencer poderá significar isso mesmo: vencer, mas com as letras todas e em todas as frentes.

Primeiro, vencer o estigma de mero “herdeiro legal” do presidente que se ausentou e conseguir a sua legitimação plena: ser eleito presidente da Câmara.

Segundo, vencer o fantasma de Álvaro Amaro: distanciar-se e romper com a (pesada) herança do seu antecessor, movendo o tónico do discurso político para o futuro (focando-se na obra por fazer e não na obra feita).

Terceiro, vencer a batalha interna com a Comissão Política Concelhia do PSD: validar a sua titularidade do cargo político mais importante do distrito, forçando a inauguração de uma fase de cooperação com o órgão local.

Se a afinação do compasso de Chaves Monteiro falhar, cá estaremos para falar de outros “tempos” e outras “danças” da vida política local. Se a valsa autárquica de Rui Rio falhar, cá estaremos para falar de outro(s) “Passos”…

Ex-presidente da Federação do PS da Guarda e antigo vereador da Câmara da Guarda

Sobre o autor

Pedro Fonseca

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