Sociedade

Agências funerárias da região sem mãos a medir

Escrito por Jornal O INTERIOR

O surgimento da pandemia fez aumentar a quantidade de cerimónias fúnebres para o setor funerário da Guarda e da Covilhã

Com o começo da pandemia foi necessária a adoção de medidas rigorosas para evitar a rápida propagação do novo coronavírus. A forma como os funerais começaram a ser organizados foi uma das primeiras a sofrer grandes modificações, tanto para as agências funerárias, como para as famílias enlutadas.

Na região, o setor não tem tido mãos a medir para fazer face à quantidade de cerimónias fúnebres que tem realizado desde o início da pandemia. «A morgue do nosso hospital, de uma forma geral, é um caos. É só carrinhas funerárias a chegar e a sair», descreve Luís Tavares, gerente da Funerária Duarte e Tavares, na Guarda. O empresário não esconde o quanto foi estranha toda esta situação, principalmente no começo, quando tudo ainda era muito desconhecido. «Cheguei a fazer dezenas de funerais em que nem sequer a família participava. Se até para nós era uma situação estranha, difícil mesmo, imagino o que seria para as famílias», recorda. Atualmente, as regras são um pouco menos restritivas, pelo menos no concelho da Covilhã, como informa Jorge Moreira, gerente da Funerária Moreira: «Hoje, os velórios já são permitidos nas casas mortuárias, mas apenas para familiares diretos, e as urnas já podem ser abertas para a despedida» de pessoas que não tenham morrido com Covid-19, mas as missas de corpo presente continuam proibidas. A alternativa em toda a região tem sido uma pequena eucaristia feita pelo padre no próprio cemitério.

Na maioria das vezes os corpos que são recolhidos nas morgues seguem diretamente para o cemitério. «Enquanto os hospitais tiverem capacidade, quem morre nas unidades de saúde permanece na morgue o máximo tempo possível. Já os falecidos em casa ou nos lares, onde não há capacidade de conservação dos corpos, ficam na área de frio das funerárias a aguardar o funeral», informa Cristiano Alves, agente funerário na Funerária Alves, no Sabugal. A causa da morte é também um fator diferenciador na forma como as cerimónias são organizados. Se a pessoa morreu com Covid ou suspeita de Covid «é fechada em dois sudários feitos de um material biodegradável e estanque», processo normalmente feito pelo hospital segundo as normas da Direção-Geral da Saúde (DGS). «Nós apenas fazemos a identificação do corpo, tiramos uma fotografia e registamos», depois segue para o cemitério. «Claro que temos o material de proteção sempre colocado, para salvaguarda dos nossos colaboradores», garante Cristiano Alves.

Agentes pedem «menos burocracia» nos hospitais

A única diferença na forma como as famílias se despendem de um defunto vítima de Covid-19 ou não é que «a urna tem um visor para se poder ver o familiar» no caso de não ter morrido com nenhuma doença infectocontagiosa, acrescenta o responsável. Inicialmente, as famílias dos falecidos não reagiram da melhor maneira às regras impostas pela DGS e ainda e ainda continua a ser «muito difícil» na hora da despedida. Jorge Moreira justifica: «Somos um povo sofredor e saudosista, inquieta-nos o facto de não podermos dar aos nossos mortos um adeus digno e dito “normal”», considera, acrescentando que, de forma geral, «as famílias acatam as medidas» porque entendem que a situação pandémica assim o exige. «Ainda há pessoas que continuam a querer certas situações num funeral. Todas me pedem para vestir o corpo, mas só o faço se o óbito não tiver uma doença infectocontagiosa», afirma Luís Tavares, que acredita que as pessoas ainda não se mentalizaram que até nos funerais é necessário ter cuidados.

Apesar da ausência de certos momentos na organização de um funeral, como a realização do velório e da missa de corpo presente, e de não haver tantos pormenores para acertar, as agências da região não têm tido mãos a medir. Cristiano Alves adianta que dezembro e janeiro são «normalmente» os meses do ano com mais mortes «devido ao frio e às complicações respiratórias de muitos idosos». Contudo, comparativamente a anos anteriores, este ano houve «um aumento de cerca de 10 por cento», contabiliza. Um cenário confirmado por Luís Tavares, segundo o qual desde o início de janeiro já realizou, «em média», um funeral por dia. «Houve dois dias que não fiz nenhum, mas de resto é um por dia ou dois», sublinha. Por isso, Cristiano Alves considera que nos tempos que correm deveria existir uma maior facilitação por parte das unidades hospitalares no que toca a burocracias: «Podia ser tudo por email e não ser necessário ir à Urgência levantar certos documentos, isso evitaria haver tanta exposição dos nossos colaboradores», sugere o empresário do Sabugal.

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