Entre 1 de janeiro e 30 de setembro deste ano foram registados 22 crimes por tráfico de droga no distrito da Guarda, dos quais resultaram 28 detidos. Este número representa uma queda significativa relativamente ao período homólogo do ano passado, quando houve 88 crimes e 111 detidos, 72 dos quais entre março e agosto (este ano, apenas 16 cidadãos foram detidos por tráfico nos mesmos seis meses), segundo dados da Guarda Nacional Republicana (GNR).
Enquanto no ano passado predominavam o haxixe e a liamba, este ano apenas o haxixe se mantém entre as drogas mais apreendidas, tal como a cocaína. Segundo o major Vasco Brazão, do Comando Territorial da Guarda, a diminuição das detenções e apreensões não pode ser dissociada da «realidade que vivemos neste momento», imposta pela pandemia. O oficial diz que esta queda está relacionada com o confinamento e as restrições de eventos festivos – aos quais está associada fiscalização – mas não reflete «necessariamente uma redução» de consumo. «Sabemos que existe um número muito significativo de consumidores que consomem por rotina e eu não acredito que essas pessoas tenham deixado de consumir», acrescenta. Pode é haver «novas rotinas» quanto à compra e venda dos estupefacientes, segundo o responsável.
Foi precisamente isso que O INTERIOR constatou ao falar com alguns consumidores regulares, que confirmam ter havido uma altura de alguma escassez – coincidente com o aumento da rigidez das medidas de circulação impostas pelo estado de emergência – mas garantem que a droga nunca deixou efetivamente de circular. «No início [do confinamento] foi mais difícil [adquirir], mas foi durante pouco tempo. Agora tudo voltou ao normal», afirma uma consumidora habitual de haxixe, residente na Guarda. Já o consumo «aumentou», de forma geral, proporcionalmente ao tempo passado em casa. «Toda a gente diz que anda a fumar mais», afirma outro consumidor habitual de canábis, que reside na Covilhã.
No distrito de Castelo Branco a queda nas apreensões também se verificou, ainda que os números revelem uma diferença mais subtil: de 37 crimes por tráfico de droga e 33 detidos entre 1 de janeiro e 30 de setembro de 2019, passou-se para 28 crimes e 27 detenções em 2020, segundo a GNR. Destes, 20 foram registados entre março e agosto deste ano (menos seis do que no mesmo período do ano passado).
Em Castelo Branco as preferências não parecem ter-se alterado: a canábis continua a predominar nos registos da GNR, mas este ano a quantidade apreendida é «superior» à do ano transato. Nos últimos meses têm sido divulgadas várias notícias de apreensões de plantas de canábis, mas a GNR albicastrense nega que exista relação direta entre a apreensão frequente de plantas e o aumento da quantidade apreendida. «São coisas diferentes, pelo que não se pode retirar essa conclusão», adianta fonte do Comando Territorial. Apesar disso, há consumidores que dizem ter iniciado o cultivo de pequenas plantas nesta altura «por diversão».
A O INTERIOR, consumidores da Covilhã indicam que durante o confinamento, em particular após o fecho de fronteiras, «o preço [da canábis] subiu para o dobro e a droga começou a escassear. Digamos que o fecho das fronteiras mexeu muito com o mercado, que ainda está inflacionado neste momento, mas já está em recuperação para níveis normais», refere um deles, que pediu o anonimato. «Antes [a grama] era a seis euros, agora está a oito», adianta um outro consumidor.