Tiago Gonçalves, um dos mais promissores quadros do PSD da Guarda, faleceu no Centro Hospitalar Universitário de Coimbra na manhã de sábado aos 36 anos de idade. O jovem advogado esteve internado «cerca de 35 horas» nos cuidados intensivos do Hospital Sousa Martins antes de ter sido transferido para Coimbra a meio da semana passada.
A notícia do seu falecimento causou grande consternação na cidade e nos meios políticos, com todos os partidos a lamentarem o desaparecimento de um adversário «leal, frontal e dialogante». Natural de Vila Mendo, anexa da freguesia de Vila Fernando, onde foi a enterrar esta terça-feira, Tiago Gonçalves licenciou-se em Direito pela Universidade de Coimbra e regressou à Guarda em 2007 para exercer advocacia. Foi presidente da Assembleia-Geral da Federação Nacional de Estudantes de Direito e, na política, era deputado municipal pelo PSD desde 2009. Na JSD presidiu ao Conselho de Jurisdição Nacional de 2008 a 2010 é à Comissão Eleitoral Independente de 2012 a 2014. Foi diretor de campanha de Álvaro Amaro nas autárquicas de 2017 e em abril de 2018 venceu as eleições para a concelhia da Guarda do partido, cargo ao qual não se recandidatou em julho de 2020. Era igualmente um dinâmico dirigente associativo na sua terra natal, onde se empenhou na realização de várias atividades e encontros.
A morte inesperada de Tiago Gonçalves levou o presidente da Câmara da Guarda a decretar um dia de luto municipal, com bandeira a meia haste, observado na segunda-feira. «Enquanto presidente da Câmara Municipal da Guarda, na convicção de que interpreto fielmente o sentimento de todos os guardenses, determino o cumprimento de um dia de luto municipal, gesto que simbolicamente visa enaltecer um dos ilustres nomes da nossa cidade, que se notabilizou por ser um cidadão íntegro, pela sua dedicação, pela sua afetividade e conduta para com o próximo, e em prol da causa pública», justificou Carlos Chaves Monteiro no decreto de luto municipal. As notas de pesar sucederam-se, de Cidália Valbom, presidente da Assembleia Municipal, às estruturas distritais e concelhias do PSD.
Também os adversários reconheceram o valor de Tiago Gonçalves. A concelhia do PS guardense lamentou «profundamente» o falecimento prematuro de um «ativista político, dirigente associativo, fiel aos seus ideais e comprometido com a sua terra». A secção presidida por António Monteirinho sublinha que o social-democrata será lembrado «como um adversário político que debatia com honradez e que pôs sempre os interesses da Guarda em primeiro lugar». A estrutura coordenadora distrital do Bloco de Esquerda e o grupo municipal do partido também emitiram uma nota de pesar, onde recordaram que Tiago Gonçalves «foi sempre um adversário político com princípios e honra, debatendo-se constantemente por construir caminhos que unissem todos os setores políticos na defesa da Guarda». Por sua vez, a concelhia do CDS disse ter recebido a notícia com «profunda consternação» e destacou o «excelente advogado e político respeitado». «A cordialidade é uma marca indelével da sua personalidade política. É uma enorme perda para a Guarda», considerou a secção centrista da Guarda.
Reações:
Álvaro Amaro*
Em poucas palavras é muito difícil expressar o meu sentimento de dor e de perda.
Dói sempre perder um amigo. Ainda o conheci como “Tiaguito”. Anos mais tarde, o Tiago já não era apenas uma jovem promessa. Era um homem de família, de profissão e de pensamento político.
Por tudo isso o escolhi para meu diretor da última campanha autárquica. Que notável trabalho fizemos! Ficou a certeza…
Mas eis que aos 36 anos sai do nosso convívio. Desta maneira que custa a compreender e ainda mais a aceitar. E por isso volto a escrever que me falta em palavras o que me sobra em emoção.
Em particular à família, mas também à Guarda e ao PSD, o meu abraço fraterno de solidariedade e muita coragem.
* Eurodeputado e ex-presidente da Câmara da Guarda
Cidália Valbom*
Pedem-me que escreva um testemunho sobre Tiago Gonçalves.
Mas faltam-me as palavras para expressar o sentimento de revolta que me assolou quando, no sábado, acordamos todos com a triste noticia do seu falecimento.
Já conhecia o Tiago como jovem advogado, mas foi nestas andanças da política – pertencemos à mesma família social democrata – que mais de perto privamos e me fui dando conta de todas as suas qualidades.
Fomos ambos eleitos deputados municipais e passou a liderar a bancada do PSD. Foi sempre, julgo que todos concordaremos, sem nunca abdicar das suas convicções políticas, um líder determinado e intransigente na defesa dos interesses da Guarda.
Mas quero aqui deixar o meu testemunho de que foi também um homem de consensos e de diálogo aberto e franco.
A estima e consideração que tínhamos um pelo outro não nos impedia de muitas vezes discordarmos, mas sempre convergindo no mesmo objetivo, a defesa convicta da Guarda e das suas gentes.
Reconhecido por todos como um jovem aguerrido, trabalhador e um lutador pela causa pública e pela sua terra, que tanto admirava.
A sua família deve sentir-se orgulhosa, tal como todos nós, por termos podido privar com ele e usufruir de tudo o que nos deixa.
“Aqueles que passam por nós não vão sós.
Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós”.
* Presidente da Assembleia Municipal da Guarda
Carlos Condesso*
Foi com enorme consternação e grande revolta que tomei conhecimento do falecimento do nosso companheiro e amigo, Tiago Gonçalves.
Cidadão exemplar, militante ativo do PSD com reconhecido mérito, companheiro de várias lutas, entusiasta do associativismo, sempre com grande dedicação às causas da sua terra (Vila Mendo) e do seu concelho (Guarda). Advogado reconhecido, com uma grande carreira ainda pela frente. Afetuoso com todos os que com ele privavam – tanto na sua vida pessoal, profissional, como na política.
Prestigiou sempre com grande elevação e humildade os cargos que desempenhou, seja na Assembleia Municipal, onde era líder do Grupo Municipal, seja nas estruturas da JSD e do PSD, onde até há bem pouco tempo cumpriu as funções de presidente da Comissão Política da Secção da Guarda, ou nas associações por onde passou.
Foi, por excelência, um pacificador, um obreiro e um lutador pela convergência, respeitando as ideias e o pensamento de todos, mesmo com os que tinham ideologias políticas diferentes.
Dele guardarei memória de um homem bem disposto, cordato, afetuoso, culto e de diálogo. Um democrata, por quem tinha consideração e estima. Nem sempre concordámos em tudo, mas respeitávamo-nos mutuamente.
A família, os amigos, os companheiros de partido, a Guarda e a região, veem assim partir cedo demais um homem bom. Estamos todos em choque. Partiu um dos nossos.
O Tiago ‘Milito’, como era conhecido por nós, deixou de estar entre nós, mas vai perdurar para sempre na nossa memória. Nesta hora de grande dor, quero em meu nome pessoal e em nome da Comissão Política Distrital do PSD, expressar a toda a sua família e amigos as mais sentidas condolências. Até sempre, companheiro!
* Presidente da Comissão Política Distrital do PSD da Guarda
Carlos Peixoto*
Este é um testemunho que me terrifica e que me agonia. Detesto a morte, essa brutal realidade a que não podemos sobreviver. A viagem eterna e à pressa de um amigo atira-nos sempre para um vazio e para uma incompreensão irrespiráveis.
Esta, do Tiago, magoou-me e deixou-me um nó na garganta difícil de desatar. Não há mortes justas e todo o fim dói. Mas a do nosso “Milito”, como era carinhosamente conhecido, foi cruelmente injusta e dolorosa. Cedo, muito cedo, esfumou-se um talento. Não, não podia ter acontecido. Por todas as razões e mais algumas, ninguém entende que esta fosse a hora dele. Faz cá falta, muita falta. Quem amou e viveu a vida com aquela intensidade, quem aprendeu a bater-se sabiamente pelos direitos dos outros, quem se entregou de corpo, alma e coração a causas e combates de relevo, quem fez as coisas acontecerem e lutou ativamente pelos seus concidadãos, quem fez da família, da união e da amizade os seus alicerces, não podia ter partido assim.
Mas Deus assim quis. A justiça perde um dedicado servidor, a política perde um hábil colaborador e a Guarda perde um inconformado defensor. Eu perco um dos meus pares, um companheiro com percurso gémeo e invariavelmente solidário na profissão e no partido. Fica a sua história e ficam as minhas memórias, muitas e diferenciadas. Ai aquela noite em Valhelhas e a “desgarrada” em que era exímio…!!!
Pronto, foi, mas deixou por cá um valioso legado. A sua prole é, seguramente, o de maior porte. Lá de cima, estará já a olhar por ela, que por cá resistirá, orgulhosa do pai que teve. A sua família está de luto, o PSD está mais pobre e a Guarda tem de estar profundamente pesarosa. Uma oração por ti e um abraço fraterno, meu amigo.
* Deputado do PSD na Assembleia da República e antigo líder da Distrital da Guarda
Luís Filipe Soares*
Que dizer?.. Que escrever?.. Penso em ti… banha-se-me o olhar.
Paro… penso… As palavras não querem ser escritas – não quero, porventura, assentir que não estás – o lacrimejo ressurge sem qualquer estorvo (não são só minhas – as lágrimas – são de tantos, são de Vila Mendo). Expecto ainda que tudo não passe de uma aflição, de uma história kafkiana com que às vezes nos deleitamos enquanto arte- absurda, surreal.
Não estás! Mas permaneces… Na memória… Arejada, embora aturdida. Os dias demorados em Vila Mendo parecem agora uma eternidade; os lautos silêncios são atalhados pelo choro sibilino que a espaços estonteiam a pacatez aldeã. Ninguém acredita! Olhares exasperados encaram os céus à procura de respostas na divina providência: onde está? Existe? Interpelamos tudo e todos na ânsia de explicações, já!
Paro… penso… Tenciono quedar-me com a tua honradez, com a tua honestidade e verdade de pessoa inteligente, atenta ao outro… Conciliador e agregador de vontades. Perfeito, não o eras certamente, mas definitivamente eras um homem bom.
Paro… penso… Nas histórias e estórias que vivemos… Que viveste com outros. Sorrio, finalmente… Imagens admiráveis e aprazíveis assolam a minha mente. É com elas que vou permanecer, que vamos ficar. É com elas que vamos homenagear-te quando desaparecerem os ciscos e a poeira que muram e embaciam o nosso espírito.
Sei uma coisa: amas Vila Mendo! Mas agora, sabes tu uma coisa: Vila Mendo ama-te!… Como tanta outra gente.
Tiago: contigo, NUNC ET SEMPER
* Presidente da Associação Cultural e Recreativa de Vila Mendo