O INTERIOR passou 20 anos a falar dos outros, como é timbre de um jornal. É agora altura de, numa penada, se falar nele. Duas décadas de atividade deixam-nos a inabalável sensação de que ficámos todos mais informados e enriquecidos. O distrito da Guarda cresceu com este projeto que, semana a semana, foi destapando a indiferença coletiva que marca muitos povos e regiões.
Agitador de consciências, avivador de tradições, fazedor da atualidade, escrutinador atento, laboratório plural de ideias e de polémicas, este semanário conquistou a palmo lideranças de circulação, de notoriedade e de quota de mercado. É um património imaterial de uma vasta área geográfica e sendo o resultado do trabalho empenhado de alguns, a quem é devido um justo reconhecimento, deixa em todos nós um consolidado sentimento de pertença.
Não é preciso ter dotes adivinhatórios para se intuir que O INTERIOR não teve (nem terá) vida fácil. Mas tal como no passado superou as dificuldades que encontrou, também no futuro terá a magia e a força para continuar a pontuar. A transição quase total para o online é uma inevitabilidade e a sua capacitação para responder em tempo real aos acontecimentos vai exigir de si e dos seus colaboradores um esforço e um investimento ainda maior. As fontes de financiamento terão de ser recriadas, mas ninguém melhor que a sua direção saberá como obtê-las, num desafio que não dá descanso, à semelhança da vida dura de qualquer empresa ou empreendedor.
Dito isto, e fazendo agora a curta reflexão que me pedem sobre o que mudou ou o que poderia ter mudado nas nossas terras nestas duas décadas, só posso dizer que o assunto é sério e complexo demais para caber nestas curtas linhas. Que o distrito evoluiu e se modernizou, é uma evidência. Mas que o fez mais devagar que outros mais evoluídos e que outras regiões da Europa com quem devemos comparar, é outra evidência. Numa palavra, avançámos, mas estamos mais distantes e menos competitivos. Perdemos muita população e o maior desastre dos territórios é mesmo a perda de capital humano. Requalificámos espaços, construímos estradas, escolas, hospitais, tribunais, museus e outras infraestruturas, mas marcámos passo nas empresas e no emprego. Em cada dez que abriam fechavam 20 e apostámos sempre mais em obras de fachada “inertes”, que se esgotam praticamente no dia em que se inauguram. Não tivemos a arte para captar investimentos reprodutivos que criam valor e que fixam gente, porventura pela carência de quadros qualificados. Tirando talvez o setor vitivinícola, que se fortaleceu e se impôs, não nos diferenciámos nos demais, não obstante casos pontuais de sucesso no turismo e no alimentar.
As políticas públicas de coesão territorial continuam a ser uma miragem e não passam de aragens que o tempo consome num ápice. A Covid-19 trouxe enfermidades, mortes e um drama social e económico de que não há memória. Tirou muita gente das ruas das grandes cidades, mas, perversamente, com o recrudescimento do teletrabalho que permite a muitos exercerem as suas atividades em qualquer lado do país sem terem de se sujeitar às agruras e às tormentas urbanas, pode ter metido no mapa de Portugal zonas de menor densidade até agora esquecidas e agoniadas. O azar de uns costuma ser a sorte de outros e só Deus sabe se uma pandemia trouxe ou não uma nova oportunidade para o Interior de Portugal.
* Deputado do PSD na Assembleia da República eleito pelo círculo da Guarda e líder da Comissão Política Distrital da Guarda