Ciência, viva!

Normalmente, as descobertas científicas são demoradas. O tempo da Ciência é lento aos olhos comuns, embora seja bastante curto na passagem da história. No fundo, a Ciência é uma espécie de Carlos Miguel, antigo centro-campista do Sporting.
Os cientistas, ainda na fase de estudar os resultados, foram elevados a celebridades instantâneas, como se fossem os novos concorrentes de um “reality show”, o Bad Birus 2020. Não têm grandes certezas de nada, mas os apresentadores de televisão pedem-lhes que eles digam alguma coisa. Por isso, têm produzido declarações como esta: “Eh pá, ó Rodrigo, há gajos que andam para aí, falam, falam, falam, e eu não os vejo a fazer nada do que os epidemiologistas dizem, é claro que fico chateado”.
Os cientistas há muito que estão acostumados a juntar-se em ambientes fechados e a discutir as suas observações e conclusões. Só que até Março deste ano, a isso chamava-se Congressos e não “Prós e Contras”. Além disso, não costumavam despertar grande interesse ao público em geral, talvez porque, embora também houvesse nas convenções académicas as mesmas discussões e intrigas da casa apresentada por Claúdio Ramos, os encontros científicos apresentam claramente um défice de matulões e matulonas com pouca roupa.
Por causa da pandemia (e não da ausência de vestuário adequado, pelo menos na parte que se vê nas chamadas de vídeo), a academia passou a ser a casa mais vigiada do país. Só que, como as conclusões são ainda tão imperfeitas, há observações disponíveis para agradar a todos os quadrantes da opinião.
As máscaras protegem? Sim, claro, nem toda a gente, só quem a usa, não fazem falta nenhuma.
Podemos andar na rua? Com certeza, com cuidado, apenas sozinho, só se for imbecil.
Vai morrer muita gente? Mais do que em filmes do Michael Bay, depende das homilias do “Jornal da Noite”, os mesmos que morreriam de soluços.
É seguro jogar futebol? Afinal, o que é mais perigoso para a integridade física de um jogador de futebol? O coronavírus ou um defesa-central do Benfica tipo Mozer?
A única coisa certa, pelo menos em Portugal, é que enquanto a vacina da Covid-19 não chegar, a melhor prevenção contra o vírus é ser filiado no PCP.

* O autor escreve de acordo com a antiga ortografia

Sobre o autor

Nuno Amaral Jerónimo

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