P – Num concelho que tem apostado no turismo, qual é o impacto da pandemia da Covid-19 neste setor em Belmonte?
R – Um desastre. Nos dois primeiros meses do ano levávamos já 17 mil visitas. Previa-se um ano fabuloso. Depois foi uma verdadeira queda em dominó… em que todas as peças tombaram de um momento para o outro. Fecharam todos os museus e o castelo; cancelámos as tradicionais festividades de Abril; adiámos o grande concerto com o brasileiro Martinho da Vila, em Julho e teremos de cancelar a Feira Medieval, em Agosto. A somar a tudo isto, encerrou o comércio, Cafés, hotéis, turismo local… foi um verdadeiro apagão de Belmonte. Habituados a ter sempre turistas pelas ruas, convidados estrangeiros, eventos com muita participação, vemo-nos agora confinados a nós mesmos… dentro de portas. Mas é o momento de erguer a cabeça, mexeu com contas da autarquia, mas, sobretudo, colocou em causa toda a economia do sector, colocou em causa postos de trabalho, a rentabilidade das famílias… E quando falamos do turismo, é só um exemplo. O mesmo sucedeu com as confecções, com a agricultura, etc… as próprias entidades de apoio social, foram forçadas a um esforço financeiro tremendo, para proteger os grupos de risco… Mas, importa sublinhar que não tivemos infectados com Coronavírus no concelho, o que nos deixa muito satisfeitos. É preciso dar os parabéns a todas as entidades envolvidas, serviços de saúde, lares, bombeiros, GNR, Protecção Civil, Juntas de Freguesia… e também ao comportamento cívico das nossas populações.
P – E quais são as consequências nos museus da vila? Quando será possível a sua reabertura?
R – Os museus estiveram em manutenção nestes tempos e reabriram esta segunda-feira, Dia Internacional dos Museus, com todas as medidas de protecção impostas pela Direcção Geral de Saúde. Mas perdeu-se toda uma dinâmica que estava criada. Estão anuladas as visitas de muitas escolas – centenas e centenas de crianças, estão anulados grupos que vinham por agências de turismo, foram fechadas as fronteiras com Espanha… foram anulados e/ou adiados eventos que seriam acolhidos nas suas instalações, como é o caso dos Colóquios da Lusofonia. Até a BTL – a grande Bolsa de Turismo de Lisboa foi anulada, e era um ponto estratégico na nossa promoção. Mas a empresa municipal vai trabalhar com as agências, hotéis, alojamento local, comerciantes, restauração, para que possamos recuperar a dinâmica de sempre… já recuperamos de outras crises, temos força, capacidade de reacção e confiamos nas nossas potencialidades, no nosso património natural, na nossa cultura, na capacidade de acolher as pessoas…. Os turistas já estão a regressar, logo chegarão em força. O ano de 2021 será em grande!
P – Qual vai ser a estratégia do município para relançar Belmonte nos roteiros do turismo brasileiro e judaico?
R – A nossa estratégia está implementada e vai continuar. Tivemos apenas um interregno no tempo, que não foi só nosso, foi global. Temos uma estratégia delineada com o Brasil, uma rede de interação com a Costa dos Descobrimentos, sobretudo com Porto Seguro e Cabrália. O ano passado assinámos um acordo de geminação com a capital financeira do Brasil, São Paulo. Estamos com relações com Nova Friburgo, no Rio de Janeiro. Esperamos a oficialização e abertura do Consulado Honorário do Brasil. Há fortes ligações turísticas e empresariais que darão frutos muito em breve. A nossa ligação a Israel e à diáspora judaica continua forte, com muitas visitas… não vamos perder esta dinâmica. Depois desta paragem 2021 tem tudo para ser uma grande ano do ponto de vista turístico e económico, assim a situação do vírus a nível internacional permita desbloquear fronteiras e retomar as ligações aéreas normais….
P – No setor das confeções duas grandes empresas estiveram em “lay-off”. Está pessimista quanto ao impacto do coronavírus nesta atividade tradicional do concelho?
R – Este é um sector delicado pois tem grandes encargos fixos, muita mão-de-obra, o que exige uma capacidade de resposta financeira tremenda. Quer na importação de tecidos como na exportação de peças confecionadas, vive muitos dos mercados espanhóis e italianos, que estão também mergulhados em crise profunda, pelo que a recuperação do sector não se afigura fácil… ainda assim, temos empresários muito sólidos, com forte capacidade de gestão, que souberam readaptar as suas empresas a estes tempos difíceis com o mínimo de prejuízos para os trabalhadores… E, o que é muito importante, as empresas estão a regressar à actividade, estão de novo a enfrentar o mercado… temos de acompanhar este esforço, apoiar estas empresas para que voltem a empregar pessoas e a criar riqueza. Estou confiante.
P – Como tem a Câmara Municipal acompanhado este problema?
R – Com muito empenhamento. Tem havido um contacto permanente com as empresas, as indústrias, o comércio… vamos manter este diálogo alargado entre o poder político e os agentes económicos do concelho. Temos um gabinete de apoio ao investimento que está a estudar o impacto económico no concelho, e as linhas estratégicas para recuperar sector a sector… Veremos como podemos agir caso a caso… A Câmara Municipal de Belmonte será sempre uma parceira segura e em breve retomaremos a nossa dinâmica. Os nossos empresários são arrojados e capazes e a nossa população é gente séria e trabalhadora, por isso vamos sair disto, juntos e mais fortes!
Perfil de António Dias Rocha:
Presidente da Câmara de Belmonte
Idade: 68 anos
Naturalidade: Portuguesa
Profissão: Médico
Currículo (resumido): Ocupou vários cargos na área da saúde, já foi Presidente do Sporting Clube da Covilhã, Presidente do Conselho de administração da empresa Águas do Zêzere e Côa S.A., presidente da Aldeias Históricas e dos Bombeiros Voluntário de Belmonte. Actualmente é presidente da Câmara de Belmonte pela segunda vez. Actualmente é Presidente da Rede de Judiarias; Presidente da Associação de Municípios da Cova da Beira; Presidente da Assembleia-Geral da Resistrela; Presidente da Assembleia–Geral da Santa Casa da Misericórdia de Belmonte; Presidente da Assembleia-Geral dos Bombeiros Voluntários de Belmonte;
Livro preferido: “Vera Cruz” (Biografia de Cabral)
Filme preferido: “E Tudo o Vento Levou”
Hobbies: Futebol