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As trevas, o Rei Artur e Henry Purcell

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Num reino distante dos foragidos da Nona Legião? ou rendidos a uma adaptação? Surge alguém entre os pictos da Caledónia para construir uma civilização justa, igualitária e livre. Seria o Rei Artur que, ajudado pela magia de Merlin, vai à procura de Excalibur, a espada que lhe será entregue pela Dama do Lago. Merlin impulsiona a Távola redonda onde também se sentava Lancelote, o cavaleiro que era braço direito de Artur. No século XII surgem estas histórias do imaginário literário inglês e também francês. No ano 120 dC (séc. II) foi a data do fim dos registos da IX Legião Romana enviada para a Bretanha muitos anos antes. A que vem tudo isto? Tudo isto para falar das trevas, da imensa escuridão que envolve os momentos de desorientação humana. Se amanhã desembarcarem dezenas de milhares de sírios no Algarve que fará Portugal?

O fascínio humano pela justiça e pela Luz (bem representado no libreto de John Dryden para a ópera do séc. XVII de Henry Purcell) está sempre associado com momentos de tragédias bárbaras e épicas. A fome, as pragas, as migrações e as guerras conduzem os homens ao seu devir diabólico e ao seu mais indigno sentimento. Artur e a Távola Redonda são o desejo deslumbrado da utopia, do reino governado com equidade, justiça e respeito. Mas a paixão britânica pela lenda da justiça e a democracia tem o seu outro lado sombrio no bombardeamento de Dresden, em 1945. Desse não há cânticos nem óperas rock como “Os mitos e lendas do Rei Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda”, de Rick Wakeman. Hoje, o tempo das trevas aproxima-se para desconstruir os melhores anos dos europeus entre 1955 e 1990. As trevas das novas doenças, do envelhecimento até ao insustentável, do destruir das fronteiras africanas, da hecatombe do capitalismo asiático, o discurso obscurantista de alguns religiosos, tudo conduz à intolerância, à fronteira quebrada da barbárie e de novo às valas comuns. O pior dos homens não se educa. Existe dentro num pedaço das suas células um desenho pútrido e fanatizado que leva aos mais insanos fins. Vi-o nas transmissões da TV. Anda à solta por aí e cresce de todos os lados. Não há Artur, nem Merlim, nem Lancelote para explicar o irracional do medo, o pavor do desconforto. Sento-me num maple de design moderno, ouvindo de colunas Cambridge, muito preocupado, a sinfonia de Purcell.

Por: Diogo Cabrita

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