No final deste mês, o Museu Judaico de Belmonte – o único do país – celebra o seu terceiro aniversário, registando, de ano para ano, um acréscimo do número de entradas. Só em 2007 contaram-se 15 mil visitantes, oriundos de todo o mundo. Vítor Teixeira, responsável da Empresa Municipal de Promoção e Desenvolvimento Social do Concelho de Belmonte, refere um corpo turístico heterogéneo, indiscriminadamente composto por judeus e cristãos-velhos, portugueses e estrangeiros.
Depois dos cinco mil visitantes de 2005, o museu recebeu 12 mil pessoas no ano seguinte e 15 mil em 2007. Vítor Teixeira considera que «os objectivos estão a ser cumpridos», até porque, nestes três anos, o espaço tem mudado «constantemente o conteúdo», procurando mostrar «a verdadeira imagem» do judaísmo em Portugal «de uma forma que não é estática». O Museu Judaico é muito procurado por escolas, por causa de trabalhos de investigação sobre a temática, e turistas dos Estados Unidos, Canadá, Israel, Síria e Grécia, mas também há muitos portugueses. Como trunfos, destaca-se o facto de ser o único museu judaico do país e um dos poucos da Península Ibérica. Além disso, «a qualidade do serviço, reflectida em guias informados e fluentes em idiomas estrangeiros tem valido várias mensagens de satisfação» por parte dos visitantes. Por outro lado, o responsável justifica o interesse que o museu tem despertado junto de turistas não judeus pelo facto de se tratar de um assunto exótico: «Como diz respeito a uma minoria, as pessoas procuram conhecer», garante.
Ademais, «a realidade do museu é transversal» e apresenta uma parte da história de Portugal. «Belmonte conseguiu pôr de pé uma obra com características únicas», considera o dirigente da Belmonte, EM. Do espólio, em permanente mutação, fazem parte várias centenas de peças e documentos «de valor incalculável», umas pertença do município, outras cedidas temporariamente. Tal como os objectos expostos «não podem ser fotografados», também o museu não procura uma publicitação excessiva, tudo para promover a imagem de um município «místico e lendário». Para o futuro, o propósito é «manter o espaço com esta dinâmica», nomeadamente através da constante substituição de peças, adianta Vítor Teixeira. Pelo museu já passaram também diversos peritos, no âmbito de dezenas de encontros e debates. Actualmente, um dos seus atractivos é a evocação da “Obra do Resgate”. A exposição, patente desde Janeiro, evoca o movimento que, nas décadas de 20 e 30, quis levar para o judaísmo normativo os cripto-judeus que viviam em Trás-os-Montes e na Beira Interior.
A iniciativa foi impulsionada pelo capitão Artur Barros – cujo envolvimento levou à sua expulsão do exército no Estado Novo – e por Samuel Schwarz, que viveu durante alguns anos em Belmonte. Em 1926, este judeu trouxe Lucien Wolf (judeu inglês defensor dos direitos do povo semita) ao nosso país, mostrando ao mundo a existência de judeus secretos em Belmonte e noutras localidades da região, como Guarda, Covilhã ou Caria.
Igor de Sousa Costa