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“Os Lusíadas” reescritos à mão em Trancoso

Empresa municipal Trancoso Eventos desafia portugueses a copiar as 1.102 estrofes da obra até ao final do ano

São 8.816 versos e cerca de 55 mil palavras que os portugueses têm que escrever até ao final do ano. O desafio de copiar à mão “Os Lusíadas” foi lançado pela Trancoso Eventos e arrancou na “cidade de Bandarra” no Dia Mundial do Livro, comemorado a 23 de Abril, com o canto quarto do poema épico de Luís de Camões. Um excerto que já está praticamente manuscrito graças ao contributo de cerca de 80 pessoas.

«O canto primeiro vai ser oferecido a diversas personalidades da sociedade civil, da política, cultura e desporto, como o Presidente da República, o primeiro-ministro ou alguns actores, entre outros», adianta Santos Costa, presidente da empresa municipal. O objectivo é conseguir copiar as 1.102 estrofes da obra – uma por cada participante – até ao final do ano, ficando cerca de 100 desenhadores, amadores ou profissionais, encarregues de ilustrar as partes em que não há protagonismo ou ineditismo. Actualmente, o exemplar de “Os Lusíadas” que se pretende copiado está disponível na Biblioteca Municipal de Trancoso, mas a ideia é que possa circular pelo país porque esta «é uma obra colectiva», realça aquele responsável.

«Re-manuscrever “Os Lusíadas” – que quer dizer “Os Portugueses” – é uma acção de grande alcance cultural e social, uma vez que todos podem contactar mais directamente com este emblema cultural de Portugal, que testemunha o bom e o mau da nossa nação, mas, mais importante que isso, guarda a nossa língua”, considera Santos Costa. Nesse sentido, o professor salienta que os únicos protagonistas da iniciativa são «esta obra de vulto e o povo que, no colectivo, a reescreve pela sua mão, tal como fez Luís de Camões há mais de 400 anos». Contudo, desta vez, o resultado final, reunido num só volume, apresentará uma «miríade de caligrafias e de marcas de diversas pessoas, o que é fantástico», admite.

Esse livro vai figurar no espólio da Biblioteca Municipal de Trancoso, seguindo uma cópia para a Biblioteca Nacional, em Lisboa, conforme o acordado com o Instituto Camões. Já os copistas do século XXI terão direito a um “fac-simile” da estrofe que manuscreveram e os seus nomes constarão de uma espécie de posfácio desta tarefa monumental, juntamente com a respectiva estrofe e a cidade de origem. Santos Costa recorda que este tipo de desafio não é inédito entre nós, aludindo ao projecto da Bíblia manuscrita, concretizado em 2004. «Tive também conhecimento que, no século XIX, foi feita uma cópia de “Os Lusíadas”, em que o próprio rei D. Carlos deu o seu contributo”, refere.

Luis Martins

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