Azulejo deriva de um termo árabe que designa pequeno ladrilho esmaltado ou vidrado. Nada tem a ver com a cor azul e, sobretudo, nada tem a ver com dragões ou grupos futebolísticos. Azul é a cor predominante nos azulejos até que a fábrica de Domenico Vandelli decidiu dar-lhes cores em Coimbra.
Azul ficava quem comia com os ladrilhos na testa em 1974. Aleijavam os ladrilhos voadores arremessados contra o passado. Em 1974 por tudo e por nada se discutia política e se partiam ladrilhos, se levantavam pedras da calçada e “vira milho”. Hoje os desempregados gritam, as profissões liberais agitam-se, os operários emitem comunicados, mas manifestações, ladrilhos no ar e outras acções militantes de 1974 não há. Os azulejos azuis ou às cores lá ficam nas paredes onde se encostam os pés enquanto se fuma na estrada, que noutros lugares não pode ser. E protesta-se nos corredores de muitas tristezas. Fala-se da ASAE e das fiscalizações, e da intransigência, e dos gestores milionários. Fala-se deste mundo que nos aleija de forma persistente. Somos empurrados para o limite, para os espaços da intolerância que nasce da fronteira entre o servo e o capataz. Não andam azulejos no ar, mas o céu não é azul e a sensação subjectiva de tudo se fazer independentemente de nós aleija. É um pressentimento, mas estamos a um fio dos azulejos voadores, e das formas violentas de protesto.
Por: Diogo Cabrita