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Tarefeiros dispensados, crianças especiais não cuidadas

Temos assistido, ultimamente, a um vaivém de informações acerca de um grupo de tarefeiros dispensados na Unidade de Multideficiência da Escola de Santa Zita, do Agrupamento de Escolas de Santa Clara, na Guarda. Muito se fala, muito se comenta mas pouco se quer analisar.

Os tarefeiros destas crianças portadoras de multideficiência viram o seu número de horas de trabalho reduzido, após uma reanálise da medida de despedimento do corpo de tarefeiros a 3 de Janeiro. Os pais estão deveras preocupados com os seus filhos e estas crianças, contrariamente à ignorância de muitos “entendidos na matéria”, apercebem-se de tudo o que se passa à sua volta e ressentem-se pela falta de cuidados que lhes está a ser prestada.

Num país onde tanto se luta pela integração de pessoas com deficiência, vemos que algo de muito mal se passa. Porque a verdade é que, quando se deixa de cuidar de quem mais precisa, está a fazer-se cair no esquecimento uma parte da sociedade, que, diferente, nos revela a essência da pessoa Humana, mais completa que muitos que, aparentemente, não têm limitações! (…) Mas quem está longe de saber o que é viver e cuidar de pessoas deficientes não consegue perceber as suas reais necessidades.

E assim, não havendo mais forma de se conterem as despesas ou outra forma de colocar a trabalhar quem o não quer fazer por natureza, despedem-se tarefeiros e deixam-se estas crianças à espera da boa “pouca” vontade de auxiliares da acção educativa… Afirma-se que cuidar destas crianças é da sua competência, mas a verdade é que ninguém as informou das suas novas tarefas e ninguém lhes deu a menor formação para tal!

Isto porque, ao contrário do que se possa pensar, por detrás de um salário de 2,60 euros à hora de tarefeiros estão pessoas que, por vezes, até são licenciadas e/ou têm uma relação sócio-afectiva com estas crianças que foi construída e aperfeiçoada ao longo de vários anos. Então como podem estes pais, cujas crianças não são de modo nenhum independentes na satisfação das suas necessidades básicas, ficar descansados quando as deixam na Unidade de Multideficiência? (…) É este o Governo português, que esquece os que mais precisam, de que nos devemos orgulhar? Ou será que não cuidamos dos nossos queridos deficientes, porque a máxima de que “isso só acontece aos outros” perdura na mentalidade deste país? (…)

Chega de empurrar estes casos para o esquecimento com medo das represálias… Chega do medo de falar… Chega de criar e recriar barreiras! Simplesmente, chega de desrespeitar os portugueses portadores de deficiência…

Ana Sofia Santos, Guarda

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