A Associação faz

Escrito por Daniel Joana

O ser humano é, por natureza, um ser associativo. Quando descobre um semelhante a fazer algo que lhe interessa, ou tão-só lhe desperta a curiosidade, aproxima-se, observa, interage e, se puder, junta-se. Cria uma comunidade. É assim para as motos e para a música. Para o futebol e para a filosofia. Para o teatro e para o todo-o-terreno. Parecem-me, portanto, um pouco alarmistas as visões que dão por moribundos os movimentos associativos.
Outra coisa é a transformação do associativismo. Há cada vez menos associações de caráter genérico, que funcionam apenas como plataformas de socialização a cujas sedes as pessoas vão só para tomar café e conversar. Ao invés, permanecem vivas – e continuam, todos os dias, a ser criadas – coletividades de âmbito temático, aquelas que juntam pessoas que querem exercer uma paixão e realizar coisas que lhes façam sentido. De igual forma, muitas associações estão a perder o seu cunho paroquial e a ganhar bases mais abrangentes, comunitária e geograficamente. Não é um fenómeno positivo ou negativo em si mesmo. É simplesmente a realidade.
Quanto mais as marés globais nos impelem para o individualismo, mais evidente se torna a relevância social das associações. Por exemplo, numa escola – ambiente que conheço radicalmente – é hoje bem visível a diferença entre os jovens que participam ativamente na vida associativa e os que não o fazem. Os primeiros desenvolvem um enorme número de competências (técnicas, relacionais e até mentais) que os segundos só revelam de forma rudimentar. No processo de transição para o mundo do trabalho, os primeiros levam uma enorme vantagem competitiva sobre os segundos. É a força formativa do associativismo. Em sociedade, um mais um é muito mais que dois.
Um outro aspeto que não é de menosprezar é o facto de as associações serem espaços de expressão pessoal e de intervenção no meio por excelência. Mais ainda quando falamos de territórios onde é improvável que determinado tipo de coisas aconteça. Onde ao Mercado não compensa, e ao Estado não convém, a Associação faz. Sem associações não haveria aulas de ioga em aldeias, festivais de rock nas vilas, ou arraiais com sardinhadas nas cidades. E, no entanto, há.
Um terceiro ponto importante é o potencial de ligação que uma associação pode criar entre os indivíduos e as suas comunidades de origem. As associações geram identificação e pertença. Criam laços. Vivemos num mundo em mobilidade, mas aqueles que se movem mantém, muitas vezes, uma ligação regular com as comunidades de origem por causa das suas associações. Quantos e quantos jovens, estudando nas universidades, continuam a vir a casa quase todos os fins de semana porque integram a filarmónica da terra ou jogam no clube do concelho? Se um dia deixarem de tocar ou de jogar, há grande probabilidade continuarem a apoiar a banda ou virem ver a bola. Sair do associativismo é relativamente fácil. Mais difícil é que o associativismo saia das pessoas.
Um último detalhe: enquanto palavra, “associação” é poeticamente sublime. Alexandre O’Neill poderia usá-la e abusá-la. Com todas aquelas duplas de “ss”, de “cç”, de “aa” e de “oo”, sugere contacto, convergência, encontro. Tudo o que precisamos.
Por todos os meios e de todas as formas devemos apoiar as nossas associações e acarinhar o que elas fazem.

Sobre o autor

Daniel Joana

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