Fui, de novo, candidato à Assembleia da República nas recentes eleições legislativas de 10 de março. Os resultados estão apurados e dão conta de uma profunda mudança no panorama político nacional. O PS perdeu tangencialmente as eleições para a Aliança Democrática (somada à aliança entre o PSD e o CDS na Madeira), ficando com menos dois deputados e com menos votos a nível nacional. Mas em termos de partidos considerados singularmente, e não em aliança, o PS continua a ser o maior partido nacional, mantendo o mesmo número de deputados do PSD, 78, mas um maior número de votos. Na verdade, se em relação às duas alianças (no continente e na Madeira) a diferença é de 54.544 votos, em relação somente ao PSD esta diferença desaparece a favor do PS, uma vez que o CDS representa pelo menos (a tomarmos em conta os resultados de 2022 e onde concorreu sozinho) 89.113 votos (e também não tomando em consideração os votos imputáveis, nestas eleições, ao PPM e, ainda, em 2022, às duas alianças que o PSD, o CDS e o PPM fizeram, obtendo no total 79.154 votos). Mesmo sem estas contabilizações (em que mais votos do CDS e do PPM seriam subtraídos à soma global da AD) o PS pode exibir, ainda assim, mais cerca de 35.000 votos do que o PSD.
Por esta razão, não me parece que seja legítimo o PSD atribuir-se uma vitória enquanto partido porque o seu resultado foi de facto igual ao do PS, em termos de deputados eleitos, mas menor em termos de votos contabilizáveis. Ou seja, não é legítimo comparar dois partidos, onde um deles exibe os resultados obtidos em aliança com outros dois partidos.
Posto isto, em nome da clareza dos números e dos resultados, a (dupla) coligação PSD/CDS/PPM e PSD/CDS ganhou as eleições podendo exibir mais dois deputados do que o PS e mais 54.544 votos. Isto sem considerarmos o resultado excecional do Chega, que obteve 50 deputados e 1.169.781 votos. Uma vitória clara da direita, no seu conjunto, que há que tomar muito seriamente em consideração e perante a qual é necessário formular políticas credíveis e avançadas que possam recuperar rapidamente a força da esquerda moderada. E é este caminho que Pedro Nuno Santos se prepara para trilhar com determinação.
O distrito da Guarda alinhou pela tendência nacional, elegendo o PS, tal como a AD, um deputado e menos 201 votos, subtraindo os votos obtidos pelo CDS em 2022. Foi assim que não consegui ser eleito, por ser o número dois da lista do PS, apesar do trabalho desenvolvido com deputado na anterior legislatura e durante a pré-campanha e a campanha, tendo sido eleita, e justamente, Ana Mendes Godinho.
Na verdade, assistimos a uma profunda mudança no panorama eleitoral nacional, mas também no círculo eleitoral da Guarda, onde o Chega conseguiu passar de 6.116 votos para 15.821 votos, o que representa um significativo aumento de 9.705 votos. É também aqui uma mudança que é necessário tomar em consideração não só por se ter constituído um novo polo político, mas também, ou sobretudo, pela própria natureza do voto, um voto de protesto, designadamente na área dos 8.202 novos eleitores. E tomá-la em consideração já para as próximas eleições europeias de junho, que serão um teste decisivo à consistência da mudança que estas eleições trouxeram.
Mário Soares dizia que só perde quem desiste de lutar. Pois bem, vamos refletir atentamente sobre as condições políticas que levaram a este resultado e pôr em marcha uma estratégia que nos permita recuperar os eleitores descontentes e que deixaram de se rever no PS, ainda que o nosso espaço político continue a ser o que melhor responde às expetativas dos cidadãos porque concilia a garantia e o respeito pela liberdade individual com a responsabilidade coletiva não só pelo desenvolvimento do país, como também pela solidariedade social, em particular por aqueles que lutam pela vida com maior dificuldade. Não foi fácil responder politicamente às crises que afetaram a vida coletiva desde a pandemia até às crises por que estamos a passar, a guerra na Ucrânia e a crise no Médio Oriente. Mas, mesmo assim, o PS resistiu bem confirmando-se como o maior partido e há de avançar já na próxima etapa, a das eleições europeias. O PS é um partido que sempre apostou no projeto europeu e as próximas eleições hão de confirmar essa sua vocação europeísta, garantindo seguramente um bom resultado.
Não é fácil, como se compreende, para um líder que, no momento em que assume a liderança, já tem de se lançar, de imediato, em dois difíceis e duros combates eleitorais. Mas precisamente por isso devo realçar a capacidade que Pedro Nuno Santos revelou ao manter o PS na linha da frente, pronto para iniciar um novo percurso que o leverá rapidamente a reconquistar a responsabilidade de conduzir os destinos do país. Enquanto responsável concelhio do PS cá estarei pronto para continuar o combate em defesa da democracia e do desenvolvimento do país a partir, naturalmente, do território em que doravante se passa a inserir de forma privilegiada a minha própria ação política.
* Ex-deputado do PS na Assembleia da República pelo círculo da Guarda e presidente da concelhia do PS da Guarda