1. Até às eleições dos Açores poucos arriscariam dizer que o PS poderia perder as próximas legislativas. Parecia que estava escrito nas estrelas que, mesmo com todos os erros da governação socialista, no poder desde 2015, e ainda que sem o conforto de uma maioria, Pedro Nuno Santos seria primeiro-ministro (a generalidade das sondagens apontava o PS como vencedor). Mas, de um momento para o outro, parece que tudo pode mudar…
Podemos não querer ver o óbvio, mas o resultado das eleições nos Açores vão obrigar o PS a mudar o discurso, até agora dominado pela putativa aliança do PSD ao Chega para governar: nos Açores ou o PS apoia o PSD para aprovar o orçamento e viabilizar um governo de direita sem Chega ou junta-se ao Chega e vota contra (e esta é a posição, errada, de Pedro Nuno Santos) – esta simples equação vai alterar não apenas o discurso socialista, mas também dividir os socialistas e permitir a Montenegro descolar da teia que André Ventura lhe tinha tecido.
2. Foi o primeiro de 30 debates, entre Pedro Nuno Santos e Rui Rocha, e começou muito morno. E se o “Expresso” titulou que fora o «aventureiro» contra o «incompetente», por alusão à forma como Pedro Nuno desmontou o choque fiscal proposto pelos liberais e apelidou de magia a proposta de descida de imposto que Rui Rocha vai repetindo, enquanto este respondeu na última intervenção de forma incisiva e sem possibilidade de resposta de que «Pedro Nuno Santos foi incompetente e falhou», na habitação, na ferrovia e na TAP.
O mote está dado e estes serão alguns dos argumentos que iremos ver e ouvir nos próximos dias. Pedro Nuno Santos vai tentar fugir à sua passagem pelo governo; a oposição vai persegui-lo com as suas decisões como ministro. E se neste primeiro debate o socialista perguntou «o que é que está mal» e ficou sem resposta (porque Rui Rocha estava demasiado concentrado no relógio e no esperar o momento final para dar a sua estocada sobre a incompetência de Pedro Nuno), mas a verdade é que o país está na rua e a contestação acontece porque muita coisa está mal (o caos na saúde, os professores, os agricultores, os polícias…). Se a Montenegro podemos continuar a assacar a famosa exclamação, de 2014, «a vida das pessoas não está melhor, mas o país está muito melhor», Pedro Nuno terá sempre dificuldade em distanciar-se das escolhas de António Costa e, para o bem e para o mal, é o herdeiro do ainda primeiro-ministro: o país tem boas contas, mas a vida das pessoas não parece estar melhor!
Neste primeiro debate, morno, Pedro Nuno esteve bem e mostrou o caminho que quer para o país, inclusive o que o diferencia de Costa. Mas, entre a decisão que os socialistas tomarem no Açores e os argumentos de mudança que a direita irá capitalizar, pela primeira vez a AD tem razões para sorrir: a mais recente sondagem do CES da Católica para o Público, RTP e Antena 1 dá a vitória à AD com quatro pontos de vantagem sobre o PS (AD 32%; PS 28%). Claro que as sondagens valem o que valem… mas os estudos de opinião servem sempre, no mínimo, para interpretar o sentido de voto de um dado momento, e neste momento, pela primeira vez, o sentir é de que a AD pode mesmo ganhar.
3. Uma anterior sondagem (do ICS e ISCTE, para a SIC e Expresso) apresentava não apenas crescimento da direita, mas a confirmação da afirmação do Chega. Mais, pela primeira vez, o partido de André Ventura aparece numa sondagem a eleger deputados em todos os distritos do continente.
Se no distrito de Castelo Branco, que elege quatro deputados à Assembleia da República, a possibilidade de o quarto eleito ser do Chega parece aceitável, considerando os resultados sugeridos por todas as sondagens. No distrito de Portalegre, que só elege dois deputados, um poderá ser do partido de André Ventura – é inacreditável.
De acordo com uma sondagem publicada pela Visão, no distrito da Guarda, o terceiro deputado a eleger poderá ser o cabeça de lista do Chega, que foi candidato à Câmara de Mafra pela IL, não é da Guarda e ninguém o conhece no distrito… Ou seja, os próximos deputados eleitos pela Guarda poderão ser Dulcineia Moura, Ana Mendes Godinho e, imaginem, o terceiro poderá ser Simões de Melo, do Chega (o terceiro deputado do distrito, em 2022, foi eleito com pouco mais de 17 mil votos, em 76 mil votantes).
A campanha está na rua
“No distrito da Guarda, o terceiro deputado a eleger poderá ser o cabeça de lista do Chega, que foi candidato à Câmara de Mafra pela IL, não é da Guarda e ninguém o conhece no distrito…”