P – Como surgiu a oportunidade de ser comandante dos Bombeiros Voluntários Pinhelenses? Era uma ambição sua?
R – Não seria uma ambição, foi um compromisso que eu tinha como elemento de Comando. Havia o comandante anterior, que era o Ricardo Fonseca, que saiu por motivos profissionais e eu estava como segundo comandante e, portanto, continuei como comandante interino durante um ano. Depois houve um convite da direção para assumir o primeiro cargo e foi assim que aconteceu, não foi uma questão de ambição. Foi a continuação do trabalho do comando anterior e evitar que os bombeiros caíssem no vazio, digamos assim. Como não havia comandante, surgiu a oportunidade e eu aceitei.
P – Quais são as expetativas para esta nova fase?
R – Neste momento há falta de muitos recursos humanos, essa é uma grande dificuldade que temos no corpo de bombeiros, e falta de pessoal ativo que queira colaborar, principalmente na área do voluntariado. Cada vez há mais serviço, mais ocorrências. Como sabemos ultimamente, as urgências no interior estão muitas vezes fechadas, temos de nos deslocar para mais longe e, em consequência, não há meios disponíveis e não há pessoal disponível. A falta de recursos humanos é, sem dúvida, é a minha maior preocupação. Atualmente estamos com cerca de 58 elementos no ativo e temos 30 elementos na “escolinha” de infantes e cadetes que começaram há cerca de um ano. São esses que vão garantir o futuro da associação. Uma das nossas apostas foi incentivar os mais jovens a ingressar na corporação e a fazer voluntariado.
P – Para além da dificuldade na atração de novos elementos, quais são os maiores obstáculos que enfrentam os bombeiros pinhelenses?
R – Não posso dizer que haja assim grandes obstáculos, mas é claro que às vezes não temos as melhores condições para o pessoal, nomeadamente a falta de fardamento e veículos já um bocado obsoletos nalguns casos. Ainda recentemente a direção apostou no vestiário, fizemos uma remodelação para darmos melhores condições aos nossos bombeiros. Mas essas condições nunca são as ideais e o Estado e a tutela também poderia ajudar muito mais. Com tantos veículos, também os gastos com combustíveis são extremamente exagerados, portanto, são estas as principais dificuldades que todos os corpos de bombeiros têm passado nestes últimos anos.
P – De que forma é que a greve dos médicos às horas extraordinárias tem influenciado o trabalho dos bombeiros em geral e, mais especificamente, os voluntários pinhelenses?
R – Tem influenciado e bastante. E porquê? A maior parte das vezes vimos para o Hospital da Guarda e, estando as urgências fechadas, as deslocações acabam por ser maiores. Vamos com muito serviço para a Covilhã, para Viseu, e os serviços que demorariam uma hora ou duas no máximo, agora demoram o dobro. Depois acontece que os meios não estão disponíveis, não temos o pessoal disponível porque as distâncias são maiores e perdemos mais tempo. Portanto, tem sido muito complicado com o fecho das urgências na ULS da Guarda.
P – Voltando ao problema dos efetivos, qual seria a solução para conseguir atrair novos elementos para a corporação?
R – Isso também parte um pouco da tutela porque não há muitos incentivos para o voluntariado. Já houve no passado, mas não suficientes. Fala-se no tempo da reforma, na isenção de algumas taxas, em entradas gratuitas nalguns museus, na isenção de algumas propinas no caso de estudantes, mas penso que isso só não chega. Poderia também haver mais incentivos a nível do município. Aliás, já estamos em negociações com a Câmara de Pinhel sobre a questão da isenção de IMI, de algumas taxas da água, na tentativa de conseguirmos seduzir, digamos assim, mais pessoas para o corpo de bombeiros com esses incentivos. Mas penso que devia ser o Estado a ter um papel preponderante no incentivo do voluntariado com outras medidas para mais pessoas aderirem a esta causa.
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RICARDO MONTEIRO
Comandante dos Bombeiros Voluntários Pinhelenses
Idade: 42 anos
Profissão: Técnico de diagnóstico e terapêutico
Naturalidade: Pinhel
Currículo (resumido): Ingressou no corpo de Bombeiros Voluntários Pinhelenses em 2004; Em 2014 passou a Oficial de Bombeiro de 2ª até 2021, altura em que assumiu o cargo de 2º comandante; Licenciado em Cardiopneumologia, que exerce no Hospital da Guarda; Mestrado em Gestão de Unidades de Saúde; Formador em suporte-básico de vida e disfibrilhação automática externa; Formador de Tripulante de Ambulância de Transporte e Tripulante de Ambulância Socorro.
Livro preferido: “Aparição”, de Virgílio Ferreira
Filme preferido: “Braveheart”, de Mel Gibson
Hobbies: Futebol de 11