O plano de desconfinamento progressivo divulgado pelo Governo português possibilitou a reabertura de alguns comércios no passado dia 15 de março. Porém, a condição é que os negócios abertos tenham de fazer a venda ao postigo, ou seja, à porta do estabelecimento sem que os clientes entrem nas lojas.
Para muitos comerciantes da Guarda esta não é uma opção muito viável e por isso decidiram manter-se fechados. Já outros decidiram fazer a experiência e ver como corria. É o caso de Maria Santos, dona de uma loja aberta junto à Rua do Comércio, na cidade mais alta, há 49 anos. «Decidi fazer a experiência esta semana, mas, infelizmente, correu mal», lamenta. A proprietária da loja “Arte e Lar”, cuja principal atividade é a retrosaria e a venda de produtos para casa e o lar, acredita que o seu ramo dificulta um pouco a venda ao postigo. «O nosso ramo é muito miudinho e a pessoa se não entra acaba por não comprar», acrescenta a comerciante. Maria Santos sente também que as pessoas têm receio «de incomodar» e de estarem a pedir sempre mais coisas para mostrar: «Tive há pouco uma senhora que me pediu um artigo e eu mostrei-lhe cinco diferentes, mas ela acabou por dizer não era isso, que não queria incomodar mais e que regressaria outro dia», exemplifica.
Numa rua que em tempos normais tem muito movimento, «agora não se vê quase ninguém, as pessoas ainda não começaram a sair de casa», refere a comerciante guardense. E por isso o balanço desta primeira semana de desconfinamento é «muito negativo». A redução de horário é uma das técnicas adotadas por Maria Santos. «Se tenho trabalho para fazer na loja mantenho a porta aberta, mas acabando esse trabalho e se vejo que não vem ninguém vou embora. Para a semana já não devo voltar a abrir ao postigo», admitiu a O INTERIOR. Um pouco mais acima, bem no centro da Rua do Comércio, Vanessa Zuzarte é operadora de loja na “W52” e revela que não estava à espera que as pessoas fossem aderir à venda ao postigo. Apesar do primeiro dia ter sido «um horror, as pessoas não estavam habituadas e não aderiram tanto», ao longo da semana as vendas começaram a aumentar. «Mas claro que as pessoas estão ansiosas para poderem entrar, tocar e experimentar as roupas», acrescenta.
A funcionária diz não sentir que os guardenses se tenham acostumado às lojas e às compras online durante o confinamento, pois «as pessoas sentem necessidade de sair à rua. Mesmo sem entrar nas lojas e sem experimentar as roupas, as pessoas querem falar um bocadinho connosco e acabam por nos visitar», considera. Vanessa Zuzarte deixa ainda a garantia de que a venda ao postigo é «totalmente segura» e lembra que «as trocas estão a funcionar normalmente, por isso as pessoas podem sentir-se à vontade, porque nós não estamos para complicar a vida aos clientes». Na Covilhã, junto à Praça do Município, foram poucas as lojas que decidiram abrir na primeira semana de desconfinamento e de venda ao postigo. «Na rua onde estou não abriu nenhuma logo na segunda-feira, entretanto já estão mais três abertas», adianta Carlos Garrim, proprietário da loja “Tati Disney”, na Rua Direita.
O comerciante de 52 anos optou por só reabrir «na quinta e sexta-feira e foi só porque era Dia do Pai». Até lá, sentia que não valia a pena manter a loja aberta porque o negócio está «muito fraco, mesmo na rua vê-se muito pouca gente», refere. O que acabou por ser uma surpresa para o proprietário covilhanense: «achei que realmente existisse mais adesão por parte das pessoas», acrescenta. Apesar do balanço não ser o mais animador e da incerteza quanto ao futuro estar bastante presente no negócio de Carlos Garrim, o comerciante pretende continuar com a loja aberta, mesmo com a venda ao postigo e com horário reduzido, pois «é melhor vender ao postigo do que estar com a loja fechada», assume.