Sociedade

«Um dia podemos chegar aqui e temos o hospital fechado»

Escrito por Luís Martins

Foi em silêncio e sem cartazes que algumas centenas de guardenses reivindicaram melhores condições de saúde e mais médicos para o Hospital Sousa Martins e os centros de saúde do distrito. Organizada pelo movimento cívico “Saúde Não se aGuarda”, a marcha lenta/ cordão humano ligou no último domingo os Paços do Concelho ao edifício das Urgências do Hospital Sousa Martins.

Tratou-se de uma ação de «indignação» pelo agravamento do setor da Saúde e pela falta de médicos no distrito da Guarda. Disso mesmo se queixa Celeste Monteiro. «Sou doente de risco e desde março que não tenho consultas nem faço análises no hospital, onde sou seguida há 22 anos. Só agora vou ser atendida, mas no centro de saúde. A Guarda é uma capital de distrito, não pode continuar da maneira que está», lamentou a residente na cidade mais alta. Outra participante no protesto justificou a presença com a importância do Serviço Nacional de Saúde (SNS): «Não podemos deixar que o privado comece a mandar nisto tudo. Uma das coisas boas do SNS é tratar toda a gente e não sei até quando isso vai continuar a poder ser assim», afirmou.

Além de cidadãos anónimos, a iniciativa contou com a participação dos autarcas da Guarda, Celorico da Beira, Figueira de Castelo Rodrigo, Pinhel, Sabugal e Gouveia – cujo edil preside também à Comunidade Intermunicipal das Beiras e Serra da Estrela. Também os deputados António Monteirinho (PS) e João Prata (PSD), o ex-autarca Álvaro Amaro, o presidente da Assembleia Municipal da Guarda, alguns deputados municipais e os vereadores do PSD na autarquia se associaram à ação, tal como militantes do PCP e dirigentes sindicais. «Já não é só a nossa saúde que está em causa, é a nossa vida. Temos que chamar à razão todos os responsáveis, a começar no Governo, passando pelo SNS, a administração do hospital, os médicos, porque todos eles têm responsabilidades e as negociações têm que chegar a bom porto», declarou Sérgio Costa no final da marcha lenta.

Junto à entrada das Urgências, o presidente do município elogiou o «esforço sobre-humano» dos hospitais da região para tratar os doentes e dos bombeiros, que não têm mãos a medir no transporte dos utentes. «O distrito está farto desta situação. Queremos saber também porque é que os outros hospitais da região estão a tentar debelar os constrangimentos e o Hospital da Guarda não. Não compreendemos, estamos no mesmo Estado, sob as mesmas leis», questionou o eleito independente, para quem estes constrangimentos também estão a afetar «a imagem da região». Da organização, Anabela Gonçalves foi a primeira a falar para apelar à mobilização dos guardenses. «A Guarda não pode deixar morrer este serviço. Isto é nosso por direito, é aqui que queremos ser tratados, é aqui que merecemos ser tratados. O SNS está à beira da rutura e nós temos que nos unir, urgentemente. Este ano 400 vagas para internato médico não foram preenchidas, mas houve 500 médicos que não se candidataram, portanto, o problema está nalgum lado para os médicos não quererem ingressar no SNS». Já Sílvia Massano, outra das fundadoras do “Saúde Não se aGuarda”, disse a O INTERIOR que a marcha lenta foi «positiva». «As pessoas aderiram, reunimos mais de 300 participantes, agora o importante é não parar enquanto o problema subsistir no SNS e no nosso hospital, em particular», assumiu a responsável. «É muito importante que as pessoas acordem porque corremos o risco de perder um hospital que abrange mais de 142 mil utentes. Um dia podemos chegar aqui e temos o hospital fechado», avisou, adiantando que novas ações estão a ser preparadas.

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