A fé, devoção e curiosidade são algumas das razões que levam as pessoas a caminhar até Fátima nesta altura do ano. Da Guarda já arrancaram vários grupos de peregrinos que estão a caminho do maior santuário do país.
Henrique Santos tem 68 anos, é natural de Trancoso, mas vive na Arrifana (Guarda) e há 12 anos que organiza e participa na peregrinação. Este ano diz que a faz como forma «de agradecimento» integrado no grupo “Unidos pela Fé”, este ano constituído por 51 membros, mais oito de apoio. Uma viagem (e até aventura) destas não se organiza do dia para a noite. Henrique Santos conta a O INTERIOR que está a tratar da organização da caminhada «desde janeiro» e assume que se trata de uma «logística muito complicada». É preciso garantir «locais para dormir, restaurantes para comer e organizar uma equipa para o percurso que é muito difícil». Já a Estrada Nacional 17, onde os peregrinos percorrem mais de 50 quilómetros, «requer muito conhecimento e cuidado devido à segurança. É uma estrada com muito trânsito e dificuldade, e este ano está a correr bem porque a GNR da Guarda tem-nos acompanhado desde a cidade até Póvoa das Quartas. A partir daí, Coimbra não nos permite esse apoio», lamenta.
O caminho é longo. Este grupo de 51 peregrinos arrancou na madrugada desta segunda-feira e, pela frente, ainda há quatro dias de caminhada. «Ainda falta passar pelos concelhos de Oliveira do Hospital, Arganil, Miranda do Corvo e Ourém», relata Henrique Santos. Há três dias que o grupo está na estrada: «Começamos a andar pela manhã, quando há menos calor e trânsito. Habitualmente, arrancamos pelas 4 horas da madrugada e é assim que vai ser nos próximos dias. Temos de aproveitar o fresco da manhã porque o calor começa a apertar. Como vamos entrar no distrito de Coimbra, onde as previsões apontam para os 27 graus, aproveitamos para descansar na hora de maior calor e caminhamos novamente ao final da tarde», adianta Henrique Santos.
Frederico Matos é natural da Guarda e tem 47 anos. É a primeira vez que entra na aventura de caminhar até ao Santuário de Fátima, uma estreia que está «a correr bem, estou a gostar muito». O guardense fez-se ao caminho motivado pela «fé, promessas e devoção», adiantando que durante a viagem reza, pensa na fé e em «Nossa Senhora, para que me dê força e determinação e para que me ajude a mim, familiares e amigos». Durante a viagem, Frederico Matos já pensou na chegada ao destino e imagina que esse momento será um «misto de emoções, acredito que vai ser muito emocionante». As dificuldades dos peregrinos vão aparecendo ao longo do percurso. A aproximação de dias mais quentes já indicia alguma dificuldade. Frederico Matos refere que a viagem é «sempre difícil, uma vez que não é normal caminhar 40 quilómetros por dia, mas com fé, força e interajuda vamos conseguir chegar ao Santuário».
Também Sónia Martins é uma estreante do grupo “Unidos pela Fé” . É natural do Safurdão (Pinhel) e aos 42 anos decidiu que era hora de cumprir «uma promessa que tinha feito a mim mesma, de, pelo menos uma vez, ir a Fátima a pé». Durante a peregrinação, Sónia Martins pensa em «conseguir e ter fé para chegar ao destino», mas confessa que «há momentos de tudo: dor, alegria, tristeza, mas acima de tudo um espírito de companheirismo, porque no grupo todos ajudam e não há ninguém a ficar para trás». No grupo orientado por Henrique Santos, a maioria dos membros são da região guardense e Sónia Martins destaca o «bom ambiente, com pessoas incríveis e maravilhosas».
Nestes dias os familiares ficam em casa, mas nunca estão ausentes. A família de Sónia Martins está «constantemente em contacto, via telefone, a incentivar e dar força para a chegada a Fátima», mas para além destas pessoas, a pinhelense confia que «lá do alto vão dar-me força para chegar ao destino, e vai ser muito emocionante ver o Santuário». E a cada passo a chegada a Fátima fica mais perto destes peregrinos da Guarda.
GNR alerta ao cuidado de condutores e peregrinos
A GNR também está atenta às peregrinações. Até 14 de Maio decorre a Operação “Peregrinação Segura 2024”. O tenente-coronel Marco Pina, chefe de secção de Operações da GNR da Guarda, alerta para o cuidado dos condutores nestes dias.
«Já sabemos que vai haver algumas estradas mais críticas, onde vamos ter grupos a circular, apesar de atualmente já circularem devidamente sinalizados, com colete refletor e acompanhados de carros de apoio», mas ainda assim é importante que os «condutores tenham atenção à condução com velocidades mais excessivas e à realização de manobras de ultrapassagem», refere o oficial. Nesta semana há vias que merecem atenção redobrada. Marco Pina destaca a EN 16 e a EN 17, «onde é preciso muito cuidado por ser uma estrada com alguma dificuldade de visibilidade e poucas bermas, e há outras estradas, como as Nacionais 18, 102, 221, 231 ou a 233-3». Mas os alertas e conselhos não são apenas para os condutores. O tenente-coronel Marco Pina apela também aos peregrinos para que andem em «fila indiana, sinalizem o início e o fim do grupo, não andar na estrada, caminhar sempre na berma no sentido contrário ao trânsito, não utilizar auscultadores, não andar sozinho durante a noite e ter especial cuidado ao atravessar as vias rodoviárias».
Sofia Pereira