O Hospital Sousa Martins da Unidade Local de Saúde (ULS) da Guarda faz parte, desde 2 de março, do grupo de cinco hospitais nacionais referência de “segunda linha” para a contenção da infeção pelo Covid-19. Isto significa que «inicialmente foram ativados alguns hospitais, como o Curry Cabral, o Dona Estefânia e o São João. Quando a capacidade desses hospitais começou a ser esgotada, ativaram as unidades a seguir, ou seja, nós estamos nessa segunda linha de ativação», explica Luís Ferreira, diretor do serviço de Pneumologia da ULS e coordenador da Comissão para o Covid-19 na Guarda. Esta entidade, composta por dez profissionais de saúde – médicos de diferentes especialidades e enfermeiros – foi nomeada pelo Conselho de Administração da ULS para fazer a gestão dos procedimentos estabelecidos para conter o surto.
A ativação do Sousa Martins não significa, no entanto, que um doente suspeito de infeção pela pneumonia viral que esteja na região seja automaticamente enviado para a Guarda. «Pode ser para aqui, para o São João ou para Lisboa», esclarece Luís Ferreira, adiantando que é tida em conta a logística de transporte do doente, que tem de ser assegurada por uma ambulância do INEM a partir de casa, que por sua vez tem de regressar à unidade hospitalar de onde é originária. Por esta razão os doentes que têm passado pelo Hospital Sousa Martins «são mais desta área» circundante da cidade. O Centro Hospitalar Universitário de Coimbra foi também ativado para receber doentes de Covid-19 esta semana (em fase posterior ao da Guarda).
Até ontem foram realizados na Cidade Mais Alta dez testes a casos suspeitos de coronavírus, relativos a pessoas oriundas dos distritos da Guarda, Viseu, Castelo Branco, Aveiro e Lisboa. Todos os testes tiveram resultados negativos. «Houve também um caso suspeito em Vila Nova de Foz Côa, mas como foi encaminhado para o Porto não sabemos qual o resultado», disse o pneumonologista.
O responsável da Comissão para o Covid-19 esclarece que, mesmo nos casos em que se registem sintomas gripais, o teste ao coronavírus só se realiza após validação da linha SNS 24, que deve ser o primeiro contacto estabelecido pelo doente. «Se houver contexto epidemiológico – se tiver estado em Itália ou na China – nesse caso a linha SNS 24 valida. Ao validar, quer dizer que tem de ser feita uma análise para saber se o doente tem coronavírus ou não», acrescenta o médico. Este teste é feito através de análises às mucosas nasais e orais. O resultado demora quatro horas a ser apurado, período em que o indivíduo tem de aguardar num quarto de isolamento.
Além dos dez casos suspeitos que foram testados na Guarda, entre terça e quarta-feira surgiram outras suspeitas de casos no distrito, mas os mesmos «não foram validados para realização de teste», de acordo com Luís Ferreira que não sabe precisar um número devido à falta de validação.
No Hospital da Guarda existem 16 quartos de isolamento com pressão regulável, que pode ser «positiva ou negativa». No caso do Covid-19 o desejável é que a pressão seja negativa, «o que representa um menor registo de contágio», de acordo com Luís Ferreira. O responsável ressalva que neste momento o importante é a «contenção», que obriga a cuidados redobrados. No caso de suspeitas de infeção «temos de ter todo o cuidado para não haver propagação da doença. É por isso que definimos mais ou menos os circuitos por onde o doente entra no hospital e vai para um quarto de isolamento à espera do resultado da análise, por uma questão de precaução», especifica. Todos os procedimentos de encaminhamento do doente, de colocação de equipamentos de proteção, de manuseio de materiais e de protocolos em caso de confirmação de contágio foram definidos no âmbito hospitalar. «Tem havido um grande esforço nessa parte de formação», refere Luís Ferreira.
O diretor do serviço de Pneumologia acredita que o vírus poderá “infetar” a região, mas rejeita alarmismos. «Acho que é natural que surjam casos, como estão a surgir em todo o lado. Nós aqui não estamos imunes a isso», afirma o médico, segundo o qual «quantos mais cuidados tivermos durante este período de contenção menos casos teremos». O pneumologista refere-se à necessidade de lavagem frequente das mãos. Na sua opinião, é agora que «podemos travar um pouco a disseminação» da doença, pois há ainda «poucos casos» que, se forem «identificados e isolados a tempo, poderemos cortar a cadeia de transmissão».