Sociedade

Barbearias são negócio em expansão na Guarda

Barbeiros
Escrito por Efigénia Marques

Na cidade existem várias barbearias, algumas delas com mais de 40 anos de funcionamento, que já passaram de geração em geração

João Vítor Bernardo tem 63 anos e é natural da Guarda. Barbeiro há mais de quatro décadas, está estabelecido há 43 anos junto à Praça Velha. Começou nesta vida por força do destino: «Mandaram-me para Lisboa para aprender a ser barbeiro, convidaram-me e naquela altura eram tempos difíceis, aprendi e comecei a gostar disto», recorda.
Regressou à Guarda em 1978, inaugurou o seu espaço e hoje é um «dos barbeiros mais antigos da cidade» a fazer o que gosta. «Temos de saber trabalhar com o cliente, de manter uma relação com eles. Os que já conhecemos é mais fácil de trabalhar, agora os novos ficamos sempre na expetativa», adianta. João Bernardo considera que a profissão não tem só aspetos positivos, porque «há clientes que aparecem aí e não compreendem certas coisas, ficam a dever e depois dizem que já pagaram, tem aparecido de tudo», lamenta.
Já o aparecimento de novos barbeiros na cidade «é bom», uma vez que é importante ter jovens na profissão, mas «é difícil ter jovens a trabalhar neste ramo, talvez por não quererem estar muitas horas presos como estamos». Por isso, deixa um apelo para que existam melhores condições e apoios para os jovens: «Têm de ser mais incentivados porque apoios para barbeiros são poucos ou nenhuns», garante. O barbeiro por cujas tesouras já passaram alguns milhares de pessoas diz não estar arrependido «nem um bocadinho» de ter regressado à Guarda: «É um ambiente diferente de Lisboa e é a minha terra», afirma. É da porta de vidro que dá acesso ao estabelecimento que João vai ficando à espera dos clientes e não está a contar parar tão cedo.
É na Rua Vasco Borges que encontramos a Barbearia Zé Ginja. Já passaram cinco anos desde que Guilherme Silva abriu o espaço, mas a sua caminhada no mundo das barbearias também começou de uma forma natural e nada teve a ver com o facto do bisavô (que dá nome à barbearia) também ter sido barbeiro.
«Depois do secundário estava numa fase da minha vida que não sabia bem o que fazer, tive um ano de interregno e um amigo pediu-me para lhe cortar o cabelo, eu aceitei e no final dei conta que gostava disto. Foi aí que começou o bichinho», recorda. A escolha da Guarda para abertura do negócio foi por uma razão simples: «Só aqui é que fazia sentido, foi sempre a minha primeira opção, era aqui que o negócio tinha pernas para andar», sublinha o jovem proprietário. Entretanto, começaram a surgir várias barbearias na cidade, cenário que considera uma «mais-valia». «Acho bem que existam mais, trabalhamos todos, conhecemo-nos e ajudamo-nos», garante.
Como todos os barbeiros, Zé Ginja, como é conhecido, também considera que a relação com o cliente é importante para «fidelizar e manter as pessoas. Claro que o corte é importante e isso são 60 por cento, mas os outros 40 vêm da relação e são muito importantes», afiança. Na sua opinião, esta profissão estava «a ficar esquecida» não por culpa do barbeiro, mas sim «da sociedade e da aposta do Estado em formações direcionadas para cabeleireiro unissexo». A paixão pela barbearia mantém-se e é para durar e só existe uma coisa que Guilherme Silva, natural de Vila Fernando, mudava: «Seja barbeiro ou cabeleireiro, que exista mais respeito pela agenda e pelas marcações», apela. Pela sua parte, vai continuar nos cortes ostentando o nome do bisavô na bata branca que veste.

«Procuro sempre evoluir

 porque este trabalho é a minha vida e o meu trabalho é o meu reflexo», diz Almir.

Almir veio do Brasil foi estudante de Arquitetura por influência da família, mas um dia, a pedido de um amigo barbeiro, cortou-lhe o cabelo e foi aí que começou o interesse pelo ofício.
É barbeiro há seis anos, hoje trabalha na “Sherlock”, um franchising no centro comercial La Vie. Veio para a Guarda para «expandir o negócio» e para manter os clientes. «Temos de dar o nosso melhor, venho de um país onde a área da barbearia é muto forte» e aqui tenta mostrar todos os dias que é o melhor. «Procuro sempre evoluir porque este trabalho é a minha vida e o meu trabalho é o meu reflexo», sustenta.

Vicente também trabalha com Almir e desde miúdo que tinha curiosidade pela profissão. Ainda jovem, no Brasil, criou com os amigos o “movimento do corte”, onde «cortava o cabelo a um amigo, outro cortava-me a mim e assim sucessivamente», mas houve um dia em que «só queriam que fosse eu a cortar o cabelo de todos». A partir de então percebeu que era isso que queria e, hoje, ver os clientes com «autoestima renovada» é o que mais gosta. «Não cortamos só cabelo, renovamos a alma», garante, pois para o barbeiro «cada pessoa tem valor e, por vezes, um corte de cabelo pode ajudar uma pessoa que está mais em baixo», sublinha. Almir e Vicente vão continuar a cortar cabelos e aparar barba depois de terem trocado o calor do Brasil pelo frio da cidade mais alta.

 

Pedro Pascoal tem 43 anos é barbeiro há 22 e decidiu seguir as pisadas do pai, que abriu o Salão Cristal em 1976, na Guarda.
«Ele tinha a arte e deixou agora com a pandemia. Trabalhou durante 70 anos», lembra, dizendo que já levava alguns conhecimentos quando tirou a formação e nunca saiu da Guarda: «Sempre quis ficar aqui na minha cidade, casei cá, vivo cá e não podia ser de outra forma», declara.

Gostar da profissão «já é meio caminho andado» e o trabalho final que se apresenta ao cliente é a parte de que mais gosta, pois «quando falam do nosso trabalho ajudam-nos, é uma forma de nos mostrarmos aos clientes». Na sua opinião, o aparecimento de novos barbeiros é bom para a cidade, onde «há espaço para todos». Pedro Pascoal, que agora está à frente do Salão Cristal numa das transversais da Rua do Comércio, mantém aberta a casa que o seu pai fundou e não pretende parar de cortar cabelo, pois a arte está agora nas suas mãos.

Ivan Teixeira é o dono da Barbearia Clássica, mas a sua caminhada até aqui surgiu «por brincadeira» devido um problema noutra formação que frequentou. Dentro do meio e antes de abrir o seu próprio negócio, acabou por tirar a sua formação no Porto mas decidiu voltar para a Guarda e dar início à sua barbearia. «Sempre foi a ideia», declara, apesar de considerar ser fácil ser barbeiro na cidade. «É aqui que nasci, é aqui que tenho de fazer o meu futuro, vim tentar aqui e tem corrido bem, não posso dizer o contrário», afiança. Para

«Se fizermos o que gostamos é meio caminho andado», refere Sérgio Gonçalves

Ivan Teixeira, a interação com os clientes é «uma aprendizagem constante, porque cada pessoa é uma pessoa». O jovem barbeiro que se iniciou no negócio em 2019 afirma, entre sorrisos, que «nós somos psicólogos gratuitos, conseguimos chegar mais perto dos clientes por essa ligação. Eu aprendi que numa barbearia o corte são cinco por cento, o resto vem de nós», exemplifica.
Na sua opinião, o aparecimento de jovens barbeiros veio dar uma nova vida à profissão, pois «começamos a mostrar às pessoas que é possível, onde se junta o antigo com o moderno». O guardense não mudava nada na profissão e considera que há coisas que «metem piada», como quando tem a agenda cheia «e dizem que é rápido, nunca é rápido, há sempre pormenores que são importantes», garante. Ivan Teixeira vai continuar a cortar e a aprender com os clientes na barbearia em frente ao colégio de S. José.
Sérgio Gonçalves tem 37 anos e é o proprietário da Barbearia do Mini desde 2017. Deixou a empresa onde trabalhava e investiu neste negócio «por gosto e na Guarda não havia tantas barbearias modernas». Podia ter ficado em Viseu quando tirou a formação, mas optou pela cidade «que tem todo o potencial para ser a melhor cidade do país, tinha de ser aqui», reforça. Já os clientes são o «futuro da barbearia» e se os barbeiros forem capazes de os entender «ficam fidelizados e é uma mais-valia para o negócio».
Após trabalhar 14 anos numa empresa esta foi uma mudança radical para o mundo da barbearia. «Se fizermos o que gostamos é meio caminho andado», reconhece, mas também existem contras já que «não é fácil haver uma aceitação de negócios novos na Guarda muito pela perda de população», aponta. A junção do antigo e do moderno é o foco da Barbearia do Mini, «que fazia falta à cidade».

Sérgio Gonçalves diz que há «grandes barbeiros» na Guarda e que «é preciso investir na cidade, porque quanto mais investirem mais nós investimos e a cidade evolui», espera quem vai manter as portas abertas na zona do mercado municipal para tratar a barba e o cabelo de quem o visita.

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Efigénia Marques

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