Política

«Queremos que os Pesos da Régua do nosso interior sejam tão importantes como Lisboa ou Porto», diz Marcelo

Escrito por Luís Martins

O Presidente da República afirmou, este sábado, que a celebração do 10 de Junho de 2023 «é diferente» da dos últimos anos por ser celebrado no Peso da Régua, «cidade do interior que nunca foi capital de distrito ou cabeça de diocese».

No seu discurso, Marcelo Rebelo de Sousa voltou a alertar para os efeitos do centralismo do país. «Queremos que os Pesos da Régua do nosso interior sejam tão importantes como Lisboa, Porto, Setúbal, Aveiro, Coimbra e Viana de Castelo», deixando também uma referência aos municípios das ilhas dos Açores e da Madeira. «Iguais na lei, iguais na esperança do futuro», referiu o Chefe de Estado.

Por vários momentos, Marcelo Rebelo de Sousa fez referência aos 19 municípios do Douro, destacando que a «união» que os liga deve ser também o «retrato de Portugal». «O Douro é, em si próprio, História de Portugal, porque nele tivemos muitas das nossas raízes, porque foi, é e será sempre exemplo da bondade, persistência e determinação dos homens e das mulheres na luta diária perante uma Natureza única, mas avassaladora, inclemente, quase indomável», afirmou.

O Presidente da República lembrou ainda a «vocação universalista» de Portugal, à qual contrapôs um país que, dentre de portas, sempre teve «mais pobreza que riqueza, mais desigualdades que igualdade, mais razões para partir do que para ficar». Mas, se «tudo isto foi e às vezes ainda é verdadeiro, não podemos desistir nunca de criar mais riqueza, mais igualdade, mais coesão, distribuindo essa riqueza com mais justiça», sublinhou.

Falando numa «Pátria improvável, feita a pulso» e «muitas vezes chamada a ser mais importante lá fora do que cá dentro», Marcelo deixou a receita para o Portugal que quer ver construído: «Pegarmos no impossível, tentarmos uma vez, cem vezes, mil vezes, falharmos mais do que acertamos, não desistirmos, começarmos de novo», sugeriu. E, numa referência que pode ser lida à luz da situação política atual , depois do diferendo entre o Presidente da República e o primeiro-ministro em torno da continuidade de João Galamba no Governo, o Chefe de Estado sublinhou que uma das condições para avançar passa por «cortar os ramos mortos que atingem a árvore toda».

No Douro, Marcelo Rebelo de Sousa aconselhou que é  preciso «darmos de novo viço ao que disso precisar. Plantarmos, semearmos, podarmos, cortarmos os ramos mortos que atingem a árvore toda. Recriarmos juntos, neste Douro, em todos os nossos Douros, o que faça o nosso futuro muito diferente e muito melhor do que o nosso presente».

Antes, o enólogo João Nicolau de Almeida, presidente da Comissão Organizadora das Comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, já tinha chamado a atenção para os «grandes desafios» do Douro e do interior, como a desertificação e a consequente falta de mão-de-obra para trabalhar a vinha. «Senhor Presidente, se pudéssemos mudar o 10 de Junho para 10 de setembro era ótimo para a vindima, tínhamos aqui gente que chegasse para a vindima», ironizou.

«Neste alucinante e veloz século XXI temos em mãos vários desafios complexos para enfrentar. Começo por referir uma realidade nacional, não sendo o Douro uma exceção, que se trata da forte desertificação do interior, gerando falta de mão-de-obra e escassez de massa crítica», alertou João Nicolau de Almeida, segundo qual para atrair e fixar gente qualificada é preciso que «a oferta de trabalho deverá ser aliciante, sendo fundamental o aumento de valor da matéria-prima, ou seja, da uva, de forma gerar mais proveitos a montante e se poder oferecer melhores condições de trabalho».

Sobre o autor

Luís Martins

Leave a Reply