Luís Couto, vereador do PS na Câmara da Guarda, está descontente pela forma como alguns dirigentes do partido têm vindo comentar os resultados autárquicos de há meio ano e decidiu dar “um murro na mesa” na última segunda-feira, no final da reunião quinzenal do executivo.
O candidato derrotado em setembro de 2021 aproveitou a presença dos jornalistas para apontar o dedo aos críticos e garantir que, «hoje, não faria a lista da mesma maneira, isto é para mim muito claro. Provavelmente algumas pessoas não deveriam tê-la integrado, mas foi da minha responsabilidade porque deveria ter avaliado algumas situações de forma diferente». Os desabafos do independente não se ficaram por aqui, tendo revelado que a sua intenção «desde o início» foi que o PS «fechasse as feridas na Guarda, de uma vez por todas, mas já percebi que não quer e elas estão abertas», reiterando que fez uma «avaliação errada» da situação, o que justificou pelo facto de não ter «vivência partidária».
Para Luís Couto, «as pessoas deviam olhar mais para o trabalho e deixar de olhar só para o próprio umbigo, porque assim fica muito complicado, as coisas nunca surtem efeito». O vereador considera, por isso, que o que «inquinou» o resultado autárquico na Guarda foi o «desenvolvimento» do processo: «Assumo as culpas nalguns aspetos, eu era candidato como independente, mas por um partido e o partido não soube estar com a candidatura», acusa, dizendo que há razões que até pode perceber, mas o que não entende é «a forma como se comportou muita gente» no seio do PS local. «Alguns elementos do PS começaram logo a colocar entraves à nossa candidatura, referindo que eu ia representar interesses e lançaram logo algum anátema sobre a candidatura. Acho que quem mais perturbou foram mesmo alguns elementos do próprio PS», considera.
Passados pouco mais de seis meses sobre as eleições, o independente defende que era preciso fazer-se um diagnóstico «do antes e do depois e não foi feito». Segundo o único eleito socialista na autarquia guardense, o balanço foi feito «sem os protagonistas, nomeadamente eu, foi feito por pessoas que têm interesses próprios e com visões que coincidem com esses interesses, não a visão das pessoas que fizeram parte o processo», critica. Luís Couto realça também que na altura colocou «algumas questões» em cima da mesa e que só avançou quando teve a garantia de que não seria «um elemento perturbador na vida do PS da Guarda».
O vereador fala também noutras situações que aconteceram que «não deixaria que voltassem a acontecer» e que tiveram a ver com «a estratégia montada» para a formação e apresentação da lista. «Hoje haveria coisas que não faria e outras que faria de forma diferente», garante. Apesar de tudo, o independente sublinha que a candidatura à Câmara fez-se «com toda a honestidade e sem jogos»: «Pessoalmente, não admito jogos, se bem que, por vezes, a política os utiliza. Sou uma pessoa séria e quero continuar a sê-lo até ao fim da minha vida. Gastámos na candidatura aquilo que o PS nos deu e foi com isso que nos governámos», assume, alertando que «quando falarem da candidatura do PS de setembro de 2021 têm que falar comigo. Podia esconder algumas coisas e não tenho necessidade de o fazer porque foi exatamente assim», reitera.
Luís Couto acrescenta que o PS «não tinha ninguém escolhido para as listas das freguesias, não havia trabalho de campo feito e nós tivemos de o fazer. Conseguimos o que conseguimos, agora perguntam, o resultado foi bom? Não foi, foi mau e ficou aquém da minha expetativa. Pensava que ganharia a Câmara? Não, nunca pensei porque as coisas não se fazem de um dia para o outro e com o panorama que tinha à frente». Para o vereador, «a derrota histórica não foi agora, foi quando se perdeu a Câmara da Guarda, dois vereadores e sete mil votos. A minha lista perdeu mil votos face à última candidatura. Nos anos anteriores tínhamos perdido sete mil e três mil, portanto a derrota histórica está lá atrás», contra-ataca. Nas autárquicas de setembro, o PS obteve 17,98 por cento dos votos para a Câmara da Guarda, que contrastam com os 23,35 por cento conseguidos em 2017, descendo de 5.523 para 4.249 votos.
Luís Couto diz que PS «não soube estar» com a candidatura à Câmara da Guarda
Único vereador socialista no executivo guardense mostra-se agastado com as críticas ao desaire eleitoral e contra-ataca: «Hoje não faria a lista da mesma maneira, isto é para mim muito claro»