Quando o Orçamento de Estado para 2022 foi chumbado, em outubro, o Partido Socialista não estava nada preocupado com as consequências, em especial com ter de ir a eleições. Aliás, não estava preocupado o PS, nem estavam Bloco de Esquerda e Partido Comunista, que tinham viabilizado os orçamentos anteriores, da “geringonça”, e confiavam que não seriam muito castigados pela “brincadeira” irresponsável de chumbar o Orçamento.
A esquerda seguia na frente em todos os estudos de opinião e a direita andava à deriva: PSD, CDS e Chega preparavam-se para eleições internas. Todas as sondagens davam enorme vantagem ao PS e António Costa ensaiou o pedido de maioria absoluta.
Porém, as eleições ainda vinham longe e as campanhas ainda servem para alguma coisa e podem sempre influenciar mudanças surpreendentes. Ao que parece (segundo as sondagens) é o que está a ocorrer. Rui Rio, que não tem jeito para fazer oposição, foi capitalizando um estilo descontraído enquanto António Costa foi ficando refém da sua própria estratégia e, inusitadamente, as sondagens foram apontando uma mobilização imprevista há pouco pelo PSD, o empate técnico começou a aparecer como uma possibilidade nalgumas sondagens e, na rua, onde antes se sentia uma enorme superioridade do PS foi-se percebendo um PSD unido e com possibilidades de sucesso. O BE e o PCP vão ter os seus piores resultados dos últimos anos, a direita pode ter muitos mais votos do que o previsto há uns meses. A poucos dias das eleições legislativas o resultado final parece estar em aberto, como há muito não sucedia. O PS parte em vantagem, sem maioria, mas deverá ganhar.
Durante a última semana há alguns momentos a reter, como a falta de nível dos principais protagonistas que se entretêm a falar dos seus gatos e cães em vez de falarem da TAP, da dívida pública ou da segurança social, e três notas a salientar.
Primeira: Rui Rio deu provas da sua soberba e faltou ao debate das rádios nacionais porque, para ele, é muito mais agradável passear-se por umas arruadas em Bragança do que apresentar argumentos e debater com os adversários.
Segunda: O presidente da Câmara da Guarda, Sérgio Costa, entrou de rompante na campanha das legislativas para aplaudir o Governo de António Costa. O autarca, eleito como independente, foi agradecer a Ana Mendes Godinho e Ana Abrunhosa as promessas que têm feito na Guarda (ele sabe que nunca um Governo prometeu tanto à Guarda como este nos últimos meses). O agradecimento até pode ser honesto, mas soa a vingança contra Rio por este não o ter escolhido como candidato pelo PSD: a vingança serve-se fria, mas o silêncio é sempre a melhor vingança… Com este gesto, Sérgio Costa toma uma posição sem retorno, fecha as portas a um futuro regresso ao PSD e abre as portas ao PS, de que não precisava. Além de que arrisca perder o surpreendente unanimismo de que gozava junto dos presidentes de Junta, nomeadamente do PSD.
Terceira: Vendo as arruadas e comícios parece que nem estamos em pandemia. A irresponsabilidade das máquinas partidárias, com centenas de pessoas a monte, contribui decisivamente para os números estratosféricos de infetados – a pandemia tem os dias contados, mas até ao fim ainda muitas pessoas podem sofrer com contágios e consequências da irresponsabilidade de quem devia ser exemplo.
A poucos dias das eleições, com alguma incerteza quanto ao futuro primeiro-ministro, no distrito da Guarda o PSD poderá voltar a eleger dois deputados. Mas o desempenho e disponibilidade de Ana Mendes Godinho poderão ser premiados. Domingo se verá. Vote! Um direito que todos temos, mesmo que infetados ou em isolamento, e um dever, ainda que o Governo não tenha sabido organizar convenientemente as eleições em tempo de pandemia.
Vote!
“A uma semana das eleições, com alguma incerteza quanto ao futuro primeiro-ministro, no distrito da Guarda o PSD poderá voltar a eleger dois deputados. Mas o desempenho e disponibilidade de Ana Mendes Godinho poderão ser premiados.”