Era uma vez um país de quatro fronteiras: a norte delineado por um Rio, a leste por balcãs Montenegrinos, a oeste nada de novo e a sul por um bairro da Luz.
Como todos os países, também este tem cidades e uma delas, em dado momento, fartou-se do reinado rosa, de décadas, decidindo apostar num novo ciclo, dando as boas vindas ao Mister Chance, abrindo assim um novo ciclo, que poderia e deveria dar um novo rumo, pese embora todas as peças do novo teatro viessem a ser representadas por atores que obedeciam cega e caninamente às ordens do chefe necessitando de autorização para se misturarem com todos os outros atores do teatro do “boulevard”, vendendo apenas e tão só produtos do escaparate alaranjado, naturalmente escolhidos pelo chefe, onde estavam expostos o boneco da Madeira, o galo de Barcelos e o sofisticado boneco que Rafael Bordalo Pinheiro imortalizou no barro.
Com o passar dos tempos, e porque o poder arrasa consciências, o reizinho teve necessidade de partir. Os protagonistas mudaram e da farsa encenada passou-se para o melodrama de uma quase tragicomédia que, aos poucos, está a dar lugar aos teatros de sombra e à feira das improvisações.
Aqui chegados, a cidade recebeu a prenda de Scrooge e a visita dos três espíritos do Natal: o do passado – grilo falante e não só; o do presente – Pé de feijão e o do futuro – Bafo de Onça. Que ricas são estas sensações de Natal quando conseguimos passar por cima do tal código genético que Unamuno definiu como «o ódio requer realidades presentes».
Pois bem, o protagonista mudou, criando logo de seguida uma verdadeira onda de inveja. Até do antigo chefe, que, agarrado ao lugar, tudo fez para ir embora. Pudera… Tinha mesmo de ser.
Dizem agora que a causa bolchevique foi traída, os estalinistas desacreditados, o discurso secreto deu toda a credibilidade a Khrushchov e a palavra “glasnot” passou a constar do dicionário das palavras perdidas. E se Salazar se livrou de Delgado, Franco de Lorca e Estaline de Trotsky, os jacobinos agora embalados pelo caminho que leva a Escola Cínica, uns opinando por tudo e por nada, outros com postura de ratos e ainda outros e outras esperando as instruções do chefe, que, lá longe, define conceitos e estratégias, dizendo aos e às “apparatchiks” como devem atuar, ensinando-lhes, tal qual o fez Polícrates, a prática da matança política a todos quantos se opuserem aos ditames do chefe longínquo.
Se é certo e sabido que este grande irmão zela por nós, sabe tudo o que por cá se passa, marca presença, por entrepostas pessoas, que obstinadamente quer colocar à frente do paço. Os protagonistas, ao que parece, continuam desavindos optando pelo lema “a paz tem de ter guerra” e os pelouros da verdade, da fartura e do amor passam a ser completamente antípodas onde o “soft” Cavaleiro de La Mancha recebe conselhos do saloio Sancho Pança. Marx dizia que a História se repete duas vezes «primeiro como tragédia, segundo como farsa».
O final desta história ainda não é conhecido, mas tendo em conta os atuais protagonistas do terror, que poderão acabar mortos, permito-me lembrar o exemplo de Marat, que foi morto pela criada. Danton guilhotinado, a dizer do alto do cadafalso a Robespierre «tu segues-me», o que efetivamente aconteceu.
Quanto à alternativa, à casa rosa, tem uma situação em tudo idêntica. No entanto, se houver juízo e um bom protagonista… Espero para ver se a partir de janeiro de 2020, com a abertura do mercado de transferências, haverá ou não compra de jogadores e mudanças de clube. Neste conto onde os afetos são substituídos por um quase ódio puro nessa estranha, cínica e hipócrita convivência, quer se goste quer não, é contagiante e prejudica gravemente o burgo.
Finalmente, e porque estupefactos olhamos para a rena que continua a pensar que tem toda a capacidade do mundo para puxar o trenó, dizer que tudo isto se passa na cidade mais alta deste país, no jardim à beira mar plantado.