Um homem perigoso

Escrito por António Ferreira

As notícias sobre a América são cada vez mais inquietantes. Dezenas de milhões de americanos continuam a acreditar que Trump tem razão em tudo o que faz, por mais evidentes que sejam as atrocidades que vai dizendo e fazendo. A desregulação ambiental, a diminuição dos impostos dos ricos e a destruição paulatina do Affordable Care Act, de Obama, são em prejuízo de todos, no primeiro caso, mas sobretudo dos pobres, no resto. A forma como trata as mulheres e todos aqueles que não o bajulam, as mentiras sucessivas, a forma corrupta como governa, de acordo com os seus próprios interesses e não com os interesses gerais, as políticas erráticas e inconsequentes, deveriam descredibilizá-lo perante o eleitorado. Mesmo assim, muitos dos mais prejudicados pelas suas medidas vão continuar a votar nele. Dizia Trump, ainda antes de ser eleito, que podia matar alguém na Quinta Avenida que isso não o faria perder um único voto. Parece cada vez mais ser verdade. No processo de “Impeachment” não deixou testemunhas essenciais irem depor ao Congresso, de maioria democrata, com o argumento de que não lhe estava garantido um julgamento justo. Mas agora, que o julgamento decisivo é no Senado, de maioria republicana, os senadores republicanos preparam-se para uma absolvição sem julgamento, justo ou injusto, e de novo sem serem ouvidas testemunhas essenciais e potencialmente demolidoras para Trump.
É como se todos os princípios estivessem em suspenso, como se a Lei tivesse deixado de ser aplicável e tudo fosse decidido com base no puro oportunismo político.

Há algumas brechas na muralha, contudo. Uma influente revista evangélica publicou há tempos um editorial em que concluía que Trump não tinha estatura moral para ser presidente dos Estados Unidos. Boa parte dos indefetíveis reagiram de imediato, com insultos e manifestações de lealdade até à morte, mas é uma brecha. Finalmente, a América profunda, a que conhece apenas um livro, a Bíblia, começa a ter dúvidas.

Entretanto, Trump manda matar um general iraniano. Um torcionário, como se divulgou entretanto, o responsável por ataques terroristas em todo o Médio Oriente. Alguém de quem se disse que o mundo ficava melhor sem ele. O argumento é perigoso, que alguém pode começar a pensar seriamente que o mundo ficaria melhor também sem Donald Trump. Não sabemos se aquele assassinato vai trazer de novo a guerra, mas uma coisa é já certa: o preço do petróleo subiu de imediato e prevê-se que continue a subir. Os militares portugueses no Iraque andam em permanência com o colete à prova de balas e não saem já dos aquartelamentos. Trump é um homem perigoso, para todos.

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António Ferreira

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