Tzero – clínico

Escrito por Diogo Cabrita

Tê zero ou T-zero são algumas formas de escrever “apartamento mínimo”, lugar de morar se não tens filhos, se não tens biblioteca. Se tens bicho não humano é lugar de partilha de amor – cama, roupa e cozinha. Te quero junto é partilhar um Tzero. Se te alivias, vamos comunicar o cheiro, se espirras vamos contrair a gripe, se vens de treinar vamos lavar o nosso suor. Já nada é teu porque o espaço mínimo é a majoração do “nós”. Agora sim vivemos dois no útero do prédio. Temos de conviver de forma plena – um na mesa outro na retrete, um na cozinha outro no banho, sempre sem portas e sem divisões. Podemos escrever pior – um a comer outro a aliviar-se, um a perfumar outro a dormir. O Tzero é um caminho de vida comum, de viver pelos dois. Não convém ter filhos, não convém falar alto. É aqui que a partilha humana dos defeitos nossos e dos bichos pode ser avassaladora. A preguiça de ficar por limpar, de ficar por arrumar. A gula de vazar o mínimo frigorífico, de não deixar comida. A vozearia, a impaciência, o ciúme, o desejo, a melancolia, a luxúria, a raiva, o ódio, não têm capacidade de expandir, ocupam logo o espaço todo, o T-zero, como um ovo, não rebenta, não explode, mas apodrece e desfaz. Dois num lugar tão pequeno é uma experiência semelhante a viver num pequeno veleiro. O T zero durante seis meses pode ser uma prova terapêutica para os amores, para saber se um casal deve permanecer junto.

Sobre o autor

Diogo Cabrita

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